A falta de recursos financeiros está agravando a crise de fome na Etiópia e pode interromper, até o fim deste mês, o tratamento de cerca de 650 mil mulheres e crianças desnutridas, segundo alerta do Programa Mundial de Alimentos (WFP). A agência das Nações Unidas afirma que está operando “no limite” e que mais de 3,6 milhões de pessoas em situação vulnerável podem ficar sem assistência alimentar e nutricional caso não haja uma injeção urgente de financiamento.
Atualmente, mais de 10 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar aguda no país, incluindo cerca de três milhões de deslocados por conflitos e eventos climáticos extremos. O diretor nacional do WFP na Etiópia, Zlatan Milisic, informou que mais de quatro milhões de mulheres grávidas, lactantes e crianças pequenas necessitam de tratamento contra a desnutrição. A meta inicial do programa era atender dois milhões de mães e crianças em 2025, mas o planejamento foi comprometido devido à redução dos repasses, que este ano representam apenas metade do valor recebido em 2024.
Com os alimentos nutritivos se esgotando, Milisic ressaltou que os programas estão sendo suspensos, apesar da estrutura operacional estar disponível. A agência precisa de US$ 222 milhões até setembro para continuar suas atividades e alcançar 7,2 milhões de pessoas ao longo deste ano.
Nos primeiros três meses de 2025, o WFP conseguiu prestar assistência a mais de três milhões de pessoas, entre elas 740 mil crianças e mulheres grávidas ou lactantes em estado de desnutrição. Entretanto, para alcançar as populações mais carentes, a agência teve que reduzir as porções de alimentos distribuídas. Nos últimos 18 meses, por exemplo, 800 mil refugiados receberam apenas 60% das porções previstas, e os etíopes deslocados ou em insegurança alimentar passaram a receber 80%.
Além do corte de financiamento, o WFP também enfrenta obstáculos relacionados à segurança. Na região de Amhara, as operações humanitárias foram interrompidas, afetando o fornecimento de suprimentos a mais de 500 mil pessoas. Sequestros de veículos, ameaças e roubos têm se intensificado, colocando em risco as equipes em campo. Os conflitos continuam em Oromia, e a tensão cresce na região de Tigray, onde a guerra civil ocorrida entre 2020 e 2022 resultou em cerca de 500 mil mortes.
Apesar das adversidades, o WFP segue distribuindo refeições escolares a aproximadamente 470 mil crianças por mês, incluindo 70 mil de comunidades refugiadas.