Índia e Paquistão, duas nações com arsenais nucleares e um histórico de hostilidades, estão novamente à beira de um confronto armado. O ataque que resultou na morte de 26 civis na região de Jammu e Caxemira, no dia 22 de abril, desencadeou uma nova crise entre os dois países, com ameaças diretas e movimentações militares nas fronteiras. Nova Délhi acusa Islamabad de apoiar os militantes envolvidos no massacre, enquanto os paquistaneses negam qualquer ligação, mas alertam que eventuais retaliações indianas serão consideradas um “ato de guerra”, segundo informações da rede Al Jazeera.
A ofensiva mais grave contra civis na Caxemira em vinte e cinco anos rapidamente provocou uma escalada diplomática e militar. Índia e Paquistão suspenderam relações comerciais e consulares, fecharam postos fronteiriços e cancelaram vistos. As Forças Armadas dos dois lados chegaram a trocar tiros ao longo da Linha de Controle (LoC), a fronteira militarizada que divide a região em disputa desde a partição do subcontinente em 1947.
Em resposta ao atentado, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, autorizou uma série de grandes exercícios militares envolvendo a Força Aérea e a Marinha, ação interpretada por analistas como um possível preparo para ações militares. A pressão interna também cresce, pois o país atravessa um ciclo eleitoral, levando autoridades a adotar um discurso mais agressivo em favor de uma resposta firme.
“Nós não apenas alcançaremos aqueles que perpetraram este ataque. Também atingiremos aqueles que, nos bastidores, conspiraram para realizar tais atos nefastos em solo indiano”, declarou o ministro da Defesa, Rajnath Singh.
O grupo armado Frente de Resistência (TRF, na sigla em inglês) reivindicou a autoria do atentado, mas autoridades indianas afirmam que a facção atua como um disfarce para o Lashkar-e-Taiba, organização terrorista baseada no Paquistão. Uma operação de busca pelos responsáveis foi lançada, com o Exército indiano conduzindo missões para “localizar e destruir” suspeitos na região da Caxemira.
O Lashkar-e-Taiba, com sede no Paquistão e fundado há mais de três décadas com financiamento de Osama bin Laden, tem como objetivo a anexação de Jammu e Caxemira ao Paquistão. Entre seus ataques mais conhecidos está o atentado de Mumbai em 2008, que resultou em cerca de 165 mortes e 300 feridos em 12 ataques simultâneos envolvendo explosões, sequestros e tiroteios.
Outro ponto crítico da atual crise é a ameaça indiana de bloquear o fluxo de água compartilhado com o Paquistão, regulado pelo Tratado das Águas. Islamabad respondeu de maneira contundente, afirmando que qualquer tentativa nesse sentido será considerada “um ato de guerra”, e ameaçou suspender o Acordo de Simla, firmado em 1972 para tentar limitar os conflitos na Caxemira.
O risco de um novo conflito direto entre Índia e Paquistão, que já se enfrentaram em três guerras e permanecem como rivais nucleares desde o fim do domínio britânico, gerou preocupação internacional. A Organização das Nações Unidas (ONU) se pronunciou oficialmente, pedindo contenção. “Apelamos fortemente a ambos os governos para que exerçam máxima moderação e garantam que a situação e os acontecimentos que temos visto não se deteriorem ainda mais”, declarou o porta-voz Stephane Dujarric.