Oferecendo salários que podem chegar a R$ 25 mil mensais, o governo ucraniano iniciou uma campanha nas redes sociais para atrair brasileiros dispostos a se alistar e combater a invasão russa, em uma guerra que já dura mais de três anos. Recentemente, vídeos de oficiais de Kiev, mercenários veteranos e civis voluntários circulam em plataformas populares no Brasil, como WhatsApp, Telegram e Signal, buscando recrutas.
Para facilitar o processo, a Ucrânia traduziu para o português sua página oficial de recrutamento de estrangeiros e mobilizou brasileiros para atuarem como intermediários nos grupos de mensagens. A estratégia mira repetir o sucesso da Colômbia, que enviou cerca de dois mil combatentes ao país, muitos deles ex-militares ou antigos membros de guerrilhas.
Os vídeos divulgados destacam a possibilidade de ganhos rápidos, com treinamento fornecido aos recrutas e promessas de seguro de vida de até US$ 350 mil em caso de morte. Embora a experiência militar formal não seja exigida, é considerada um diferencial para os candidatos.
Renato Belém, cinegrafista de 38 anos de Manaus, é um dos brasileiros que pretende se juntar às tropas ucranianas. Desencantado com o mercado de trabalho no Brasil, ele vê na guerra uma oportunidade de mudar de vida e garantir um futuro melhor para sua filha de 12 anos. Renato já integrou o 1º Batalhão de Infantaria de Selva e participou da missão militar brasileira no Haiti.
A Ucrânia enfrenta dificuldades crescentes para manter seus efetivos. Estima-se que 100 mil soldados ucranianos tenham desertado desde 2022, enquanto dezenas de milhares morreram nos combates, sobretudo na região estratégica de Donbass. Com a redução da idade mínima de alistamento obrigatório para 25 anos e o aumento dos controles de fronteira, o governo busca reforços externos para sustentar a linha de frente.
O país enfrenta ainda um severo declínio demográfico, com a população diminuindo de 50 milhões para cerca de 32 milhões desde 1991, o que agrava a necessidade de recrutar estrangeiros tanto para o esforço de guerra quanto para a reconstrução futura.
A experiência colombiana, embora inicialmente bem-sucedida, revelou riscos elevados. Mais de 300 colombianos morreram na guerra, e famílias enfrentam dificuldades para receber indenizações, especialmente em casos de desaparecimento dos corpos. Além disso, o salário mais alto só é atingido em missões de alto risco, o que aumenta as chances de morte.
Até agora, segundo o Itamaraty, oito brasileiros morreram oficialmente em combate e outros 13 são considerados desaparecidos. Estima-se que cerca de 100 brasileiros integram a Legião Internacional da Ucrânia atualmente.
A tendência aponta que, enquanto no início da guerra o engajamento era motivado por convicções políticas ou ideológicas, o apelo financeiro agora se torna o principal fator para novos voluntários. Mesmo com as promessas de altos rendimentos, o governo ucraniano não arca com os custos da viagem, obrigando candidatos como Renato a vender bens e organizar campanhas de arrecadação para custear a ida à zona de conflito.