O Relatório Mundial Social de 2025, divulgado nesta quinta-feira (24) pelas Nações Unidas, alerta para uma combinação de fatores que estão colocando em risco os avanços sociais conquistados nas últimas décadas. A ONU identifica cinco grandes elementos que, juntos, estão empurrando milhões de pessoas para a pobreza ou para condições de extrema vulnerabilidade: choques econômicos, informalidade no trabalho, crise climática, conflitos armados e concentração de renda.
Mais de 690 milhões vivem com menos de US$ 2,15 por dia
Atualmente, mais de 690 milhões de pessoas sobrevivem com menos de US$ 2,15 diários, o que caracteriza a pobreza extrema. Além disso, cerca de 2,8 bilhões de indivíduos vivem com rendas entre US$ 2,15 e US$ 6,85 por dia, o que os torna altamente suscetíveis a qualquer tipo de choque externo, como crises econômicas ou desastres naturais. O relatório destaca que, para esses grupos, qualquer instabilidade pode representar um retorno imediato à miséria.
Trabalho informal agrava a insegurança econômica
Mesmo quem ganha acima de US$ 6,85 por dia não tem garantias de estabilidade. Em países de renda baixa e média, a maioria dos trabalhadores atua na informalidade, sem direitos trabalhistas, estabilidade ou acesso à seguridade social. Em nações desenvolvidas, cresce o número de pessoas em empregos temporários, de meio período ou inseridas na chamada “gig economy”, onde a flexibilidade muitas vezes vem acompanhada de ausência de proteção trabalhista.
A insegurança no mercado de trabalho é um sentimento global: 60% da população mundial afirma estar muito preocupada com a possibilidade de perder o emprego ou de não conseguir se recolocar, segundo dados da World Values Survey.
Clima e guerra dificultam avanços sociais
A crise climática também aparece como um agravante da pobreza. Segundo o relatório, os 50% mais pobres do mundo são responsáveis por apenas 12% das emissões de carbono, mas são os que mais sofrem financeiramente com os desastres climáticos, registrando 75% das perdas de renda causadas por eventos extremos.
Conflitos armados intensificam ainda mais o problema. Um em cada sete habitantes do planeta vive atualmente em áreas afetadas por guerras ou instabilidade. O número de conflitos no mundo dobrou desde 2010, dificultando iniciativas de erradicação da pobreza em várias regiões.
Desigualdade de renda atinge dois terços da população global
A concentração de renda segue como um dos principais desafios. Desde 1990, a desigualdade aumentou em muitos países — inclusive os mais populosos, como China e Índia. Hoje, os países onde essa desigualdade cresceu abrigam dois terços da população mundial. O relatório aponta que 1% dos mais ricos possuem mais patrimônio do que os outros 95% juntos.
Nesse contexto, destaca-se a proposta apresentada pelo Brasil em 2024, no G20, para a criação de um imposto global sobre bilionários. A medida, com alíquota de 2% ao ano, poderia arrecadar entre US$ 200 e US$ 250 bilhões anualmente.
Desconfiança e polarização ameaçam a coesão social
Outro ponto crítico é a perda de confiança nas instituições. Desde os anos 1990, há uma queda contínua na credibilidade dos governos. Hoje, mais da metade da população mundial expressa pouca ou nenhuma confiança nas instituições públicas, tendência ainda mais forte entre os jovens. A polarização política e a disseminação de desinformação nas redes sociais aprofundam esse cenário e dificultam respostas coletivas aos grandes desafios globais.
ONU propõe consenso baseado em equidade, segurança e solidariedade
Diante desse cenário, a ONU propõe um novo pacto global fundamentado em três eixos: equidade, segurança econômica para todos e solidariedade. Para a entidade, a solução passa por uma mudança estrutural na maneira como os países desenvolvem suas políticas públicas, indo além das tradicionais medidas assistencialistas.
A Segunda Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social, marcada ainda para 2025, é vista como uma oportunidade essencial para transformar essas recomendações em compromissos internacionais concretos.