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Polícia
24/04/2025 14:00:00

A máfia do bisturi: cooperativa é acusada de monopolizar anestesia no DF e vira alvo de operação policial

A máfia do bisturi: cooperativa é acusada de monopolizar anestesia no DF e vira alvo de operação policial

Uma investigação da Polícia Civil do Distrito Federal revelou um esquema de monopólio da anestesiologia na capital do país, supostamente comandado pela Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF). O grupo, formado por médicos, é acusado de estabelecer um sistema fechado e excludente em hospitais privados, impedindo a atuação de profissionais autônomos e impondo contratos onerosos a clínicas, planos de saúde e até órgãos públicos.

Segundo apurações da Operação Toque de Midaz, deflagrada em abril pela Polícia Civil e o Ministério Público do DF, a Coopanest mantém grupos exclusivos de anestesistas que dominam os plantões nos hospitais, formando verdadeiros feudos onde apenas médicos ligados à cooperativa têm permissão para atuar. Médicos recém-chegados ou independentes são sistematicamente barrados, a menos que sejam aceitos pela estrutura já estabelecida.

O controle da Coopanest se estende também aos convênios de saúde. Todos os procedimentos anestésicos da rede privada são faturados pela cooperativa, que retém parte do valor e repassa o restante aos grupos dominantes. A chamada “tabela da Coopanest”, criada de forma unilateral, estipula preços até sete vezes mais altos que os praticados no mercado. Hospitais e operadoras que contestam os valores sofrem retaliações, como boicotes e recusa de atendimento.

Um caso emblemático envolveu um hospital que rompeu vínculo com uma clínica afiliada à cooperativa, o que gerou uma reação em cadeia: anestesistas abandonaram plantões, cirurgias foram canceladas e médicos que aceitaram trabalhar no local sofreram ameaças. O hospital ficou com apenas quatro anestesistas para toda a demanda, o que resultou na suspensão de centenas de procedimentos.

Além disso, a estrutura interna da cooperativa é marcada por hierarquia rígida. Médicos sem participação societária, chamados de “bagres”, ficam com os plantões mais difíceis e recebem remunerações fixas, enquanto os lucros e o poder de decisão permanecem concentrados nas mãos dos sócios majoritários.

A investigação aponta que o domínio da Coopanest se estende à rede pública, afetando hospitais como o da Criança de Brasília e dificultando contratações pela Secretaria de Saúde do DF devido aos valores exigidos. Como consequência, mais de 1.300 cirurgias gerais, incluindo 500 pediátricas, deixaram de ser realizadas.

A Operação Toque de Midaz cumpriu mandados de busca e apreensão contra dirigentes da cooperativa, suspeitos de crimes como cartel, organização criminosa, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro. O nome da operação faz alusão ao rei Midas, símbolo da ganância, e ao Midazolam, sedativo comum em anestesias, destacando o foco da ação no setor.

Em nota, a Coopanest-DF negou as acusações, alegando que não há cartel em sua atuação e reforçando seu compromisso ético com os cooperados ao longo de mais de quatro décadas.



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