Uma investigação da Polícia Civil do Distrito Federal revelou um esquema de monopólio da anestesiologia na capital do país, supostamente comandado pela Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF). O grupo, formado por médicos, é acusado de estabelecer um sistema fechado e excludente em hospitais privados, impedindo a atuação de profissionais autônomos e impondo contratos onerosos a clínicas, planos de saúde e até órgãos públicos.
Segundo apurações da Operação Toque de Midaz, deflagrada em abril pela Polícia Civil e o Ministério Público do DF, a Coopanest mantém grupos exclusivos de anestesistas que dominam os plantões nos hospitais, formando verdadeiros feudos onde apenas médicos ligados à cooperativa têm permissão para atuar. Médicos recém-chegados ou independentes são sistematicamente barrados, a menos que sejam aceitos pela estrutura já estabelecida.
O controle da Coopanest se estende também aos convênios de saúde. Todos os procedimentos anestésicos da rede privada são faturados pela cooperativa, que retém parte do valor e repassa o restante aos grupos dominantes. A chamada “tabela da Coopanest”, criada de forma unilateral, estipula preços até sete vezes mais altos que os praticados no mercado. Hospitais e operadoras que contestam os valores sofrem retaliações, como boicotes e recusa de atendimento.
Um caso emblemático envolveu um hospital que rompeu vínculo com uma clínica afiliada à cooperativa, o que gerou uma reação em cadeia: anestesistas abandonaram plantões, cirurgias foram canceladas e médicos que aceitaram trabalhar no local sofreram ameaças. O hospital ficou com apenas quatro anestesistas para toda a demanda, o que resultou na suspensão de centenas de procedimentos.
Além disso, a estrutura interna da cooperativa é marcada por hierarquia rígida. Médicos sem participação societária, chamados de “bagres”, ficam com os plantões mais difíceis e recebem remunerações fixas, enquanto os lucros e o poder de decisão permanecem concentrados nas mãos dos sócios majoritários.
A investigação aponta que o domínio da Coopanest se estende à rede pública, afetando hospitais como o da Criança de Brasília e dificultando contratações pela Secretaria de Saúde do DF devido aos valores exigidos. Como consequência, mais de 1.300 cirurgias gerais, incluindo 500 pediátricas, deixaram de ser realizadas.
A Operação Toque de Midaz cumpriu mandados de busca e apreensão contra dirigentes da cooperativa, suspeitos de crimes como cartel, organização criminosa, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro. O nome da operação faz alusão ao rei Midas, símbolo da ganância, e ao Midazolam, sedativo comum em anestesias, destacando o foco da ação no setor.
Em nota, a Coopanest-DF negou as acusações, alegando que não há cartel em sua atuação e reforçando seu compromisso ético com os cooperados ao longo de mais de quatro décadas.