17/05/2025 12:07:25

Guerra
23/04/2025 00:00:00

Por que desertores ucranianos estão retornando ao campo de batalha

Por que desertores ucranianos estão retornando ao campo de batalha

Até março de 2025, militares ucranianos que haviam deixado suas unidades sem autorização puderam regressar ao serviço ativo sem sofrer punições legais. A DW conversou com alguns desses soldados, que explicaram as razões pessoais por trás da deserção e o que os motivou a voltar.

"Crime? Que crime? Eu estava com problemas familiares!", defende-se Kostyantyn, um dos milhares de soldados que abandonaram suas posições durante o conflito. Ele critica a falta de apoio após seu ferimento em combate, como reabilitação ou compensação. Segundo o Departamento de Investigações da Ucrânia, cerca de 21 mil militares retornaram voluntariamente ao serviço nos últimos meses, buscando evitar processos legais. No início de 2025, havia quase 123 mil registros de deserção ou ausência não autorizada, mas apenas 7% dos casos foram investigados em dois anos e meio, superando a capacidade dos órgãos responsáveis.

Frente a essa realidade, estabeleceu-se um acordo informal: desertores que fossem convencidos por seus comandantes a retornar não seriam alvo das autoridades. A prática acabou oficializada por lei no terceiro trimestre de 2024, permitindo o retorno sem punição até 1º de janeiro de 2025, prazo que foi estendido por mais dois meses.

Entre os que voltaram está Yevhen, de 38 anos, integrante das Forças Armadas da Ucrânia. Ele relata que, após anos lutando, perdeu a família e se sentiu traído por seu comandante, que o enviava em missões de alto risco. Após um período trabalhando ilegalmente em Dnipro, decidiu se apresentar à Polícia Militar e reintegrar-se ao Exército. Hoje atua na 59ª Brigada de Assalto e afirma que a guerra o moldou por completo. O contraste entre o front e a vida nas cidades é, para ele, chocante: enquanto soldados enfrentam a morte diariamente, a vida civil parece seguir normalmente, indiferente ao conflito.

No treinamento, Yevhen agora integra um grupo de soldados que também retornaram ao serviço. O comandante, conhecido como "Branco", compreende os motivos desses militares: questões familiares, problemas logísticos e até confusões após tratamentos médicos podem levar à deserção. Segundo ele, os que retornam costumam ser mais capacitados e motivados do que os recrutas inexperientes, sendo mais fáceis de lidar e cumprir com responsabilidade suas funções.

Com a intensificação dos ataques russos em Pokrovsk no fim de 2024, a brigada recebeu novos soldados, mas muitos deles não estavam preparados. A presença dos retornados ajudou a elevar a moral e a eficiência da tropa nos meses seguintes.

Roman Horodetsky, chefe do apoio psicológico da 68ª Divisão, afirma que 30% dos desertores voltaram ao serviço, metade deles para suas unidades de origem. Para ele, a estrutura atual de reintegração funciona, mas não soluciona a raiz do problema: a exaustão extrema dos soldados. "Infelizmente, ainda não é possível resolver isso", afirma.

"Milka", um comandante de 42 anos da 68ª Brigada, também foi desertor. Ele não revela os motivos que o levaram a deixar seu posto, mas reconhece que a guerra exerce um tipo de atração difícil de explicar. Hoje responsável pelo treinamento de novos soldados, conta que recuperou as forças durante o tempo fora. Apesar disso, nutre o desejo de abandonar a vida militar, passar um tempo com os filhos e viver longe do conflito. "Se pudesse, queimava tudo, vestia um moletom e ia passear com meus filhos. É isso que eu quero."

 



Enquete
Ex-Governador e atual Senador Renan Filho pretende voltar ao Governo de Alagoas, Você concorda?
Total de votos: 63
Google News