Um relatório divulgado nesta segunda-feira (22) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) aponta que redes transnacionais do crime organizado oriundas do Leste e Sudeste Asiático estão ampliando suas atividades fraudulentas para além das fronteiras da região, espalhando-se por continentes como África, América Latina, Europa e Oriente Médio.
Segundo o documento, a expansão ocorre em resposta ao aumento das repressões em países como Mianmar, Camboja, Laos, Filipinas e Vietnã, onde os centros de burla — utilizados para aplicar golpes envolvendo falsas promessas de romance, investimentos fraudulentos e jogos de azar ilegais — têm sido alvo de intensas operações policiais.
Golpes movimentam bilhões e aliciam vítimas em vários continentes
Estima-se que esses centros de fraude em escala industrial movimentem anualmente cerca de US$ 40 bilhões. Recentemente, a atuação criminosa foi detectada também em regiões com menor fiscalização, como partes da África e da América do Sul, onde a aplicação da lei é mais frágil, favorecendo a instalação dessas redes.
Casos recentes revelam a dimensão do problema: mais de 250 pessoas de 20 países foram resgatadas de centros de burla em Mianmar. No Peru, mais de 40 cidadãos malaios foram libertados após serem forçados a cometer fraudes cibernéticas por uma organização criminosa conhecida como "sindicato do Dragão Vermelho", com sede em Taiwan. No Brasil, a ONU destaca um crescimento preocupante de crimes envolvendo fraudes digitais, lavagem de dinheiro e apostas ilegais, com ligações a grupos do Sudeste Asiático.
Novas tecnologias impulsionam profissionalização do crime
O relatório também alerta para o uso crescente de tecnologias como inteligência artificial, malware, redes de dados roubados, deepfakes e plataformas de "crime como serviço", que têm aumentado a sofisticação das fraudes e dificultado a repressão por parte das autoridades.
A Nigéria, Angola e Zâmbia, por exemplo, também desmantelaram recentemente esquemas de ciberfraude ligados a grupos asiáticos, principalmente envolvendo criptomoedas. Na América do Norte e Europa, foram identificadas conexões com serviços de lavagem de dinheiro e tráfico de pessoas associados a essas mesmas redes.
Convergência tecnológica e expansão global exigem resposta coordenada
Benedikt Hofmann, representante regional interino do UNODC para o Sudeste Asiático e o Pacífico, afirmou que essa convergência entre tecnologia avançada e expansão territorial das fraudes representa uma nova fase de ameaça global, exigindo que os governos se preparem para uma resposta integrada e coordenada.
A ONU reforça que o cenário atual representa um novo patamar de intensidade no setor do crime cibernético internacional, impulsionado tanto por avanços tecnológicos quanto pela mobilidade estratégica dos grupos criminosos diante da pressão repressiva nas suas áreas de origem.