Ronilson de Jesus Santos, de 53 anos, liderança comunitária e presidente da associação que coordena o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola-Jatobá, foi executado com um tiro na cabeça no quintal de sua casa em Anapu, no Pará, na última sexta-feira (18). A cidade é a mesma onde, há vinte anos, foi assassinada a missionária norte-americana Dorothy Stang. Ronilson atuava na defesa do assentamento rural localizado no Vale do Pacuru contra a presença ilegal de madeireiros.
O crime ocorreu na chamada “sexta-feira da paixão”. Segundo relatos, o agricultor estava sozinho em casa no momento da execução. Seu filho mais novo havia saído para buscar peixe, e, ao retornar, encontrou o pai já sem vida. Quatro dias antes do assassinato, Ronilson publicou nas redes sociais um vídeo em que denunciava a presença de madeireiros e pistoleiros armados construindo acampamentos dentro da área destinada à reforma agrária. No vídeo, ele alerta: “Estão ali construindo barraco, tirando estaca, fazendo tudo, fazendeiro com pistoleiro dentro da área. Isso não pode acontecer”.
Ronilson era membro da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contraf) e coordenava o assentamento onde vivem cerca de 120 famílias. Apesar de o PDS Virola-Jatobá ter sido oficialmente regularizado pelo Incra em 2002, o território de 40 mil hectares continua sendo alvo de disputas por interesses econômicos.
A Delegacia de Conflitos Agrários de Altamira (DECA) investiga o crime e já identificou suspeitos, mas até o momento ninguém foi preso. A possibilidade de envolvimento de grupos armados ligados à grilagem de terras não foi descartada pelas autoridades.
O assassinato gerou reações de autoridades e entidades. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, classificou o crime como uma “covardia” e reforçou que a região é marcada por conflitos entre agricultores e madeireiros. Ele afirmou ter pedido ao secretário de segurança pública do Pará, Ualame Machado, que providências sejam tomadas com urgência, incluindo a proteção dos demais trabalhadores rurais. O ministro também informou que solicitou à ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, a inclusão do assentamento e do acampamento do Vale do Pacuru no Programa de Proteção de Defensores dos Direitos Humanos.
Em nota, a Contraf Brasil destacou que o assassinato atinge diretamente um território de resistência da agricultura familiar e da luta pela reforma agrária, afirmando que tomará todas as medidas necessárias para cobrar uma apuração rigorosa dos fatos e a punição dos envolvidos no crime.