As sanções aplicadas por países ocidentais à Rússia em resposta à guerra na Ucrânia começaram a mostrar efeitos mais concretos sobre a economia do país. Em 2024, as importações russas de equipamentos industriais somaram US$ 7,7 bilhões (R$ 45,2 bilhões), uma queda superior a 30% em comparação aos US$ 11 bilhões (R$ 64,6 bilhões) de 2023. A análise, baseada em registros alfandegários examinados pelo site The Insider, destaca quedas acentuadas em áreas estratégicas como eletrônicos, metalurgia e componentes mecânicos.
A maior retração ocorreu nas compras de componentes eletrônicos, que caíram drasticamente de US$ 1,6 bilhão (R$ 8,2 bilhões) para US$ 260 milhões (R$ 1,3 bilhão) em apenas um ano. Até 2023, a Rússia recorria a fornecedores chineses para obter microchips e sensores ocidentais de forma indireta, mas em 2024, empresas menos conhecidas como a Nekom Limited, de Hong Kong, passaram a fornecer placas eletrônicas sob encomenda, refletindo uma nova estratégia diante do bloqueio comercial.
Guerra começa a comprometer infraestrutura industrial russa
A China, que havia se tornado uma das principais aliadas comerciais da Rússia após o início do isolamento imposto pelo Ocidente, também reduziu substancialmente suas exportações. Produtos como eixos de transmissão, centrífugas e sistemas ópticos tiveram queda significativa, com exceção dos equipamentos voltados à metalurgia, que mantiveram o fluxo.
Com a dificuldade de importar diretamente, a Rússia passou a utilizar rotas alternativas e pouco convencionais, com remessas chegando por intermédio de países como Gabão, Camarões, Haiti e Vanuatu. Muitos desses produtos continuam sendo fabricados por empresas ocidentais, mas chegam ao destino final por vias paralelas que dificultam a identificação e o controle. A Turquia também se tornou um elo logístico relevante, auxiliando na remessa de equipamentos como máquinas de corte de metal e sistemas de perfuração.
Declínio de peças críticas evidencia fragilidade do setor de defesa
Apesar das manobras para contornar as sanções, os números mostram uma deterioração gradual da capacidade russa de manter sua base industrial militar. Equipamentos de precisão como furadeiras alemãs, sensores suíços, processadores ópticos australianos e máquinas de corte israelenses desapareceram quase completamente das estatísticas. Circuitos integrados, que lideravam as importações em 2023, despencaram para US$ 44 milhões (R$ 258 milhões) em 2024, frente a mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,8 bilhões) no ano anterior.
Curiosamente, algumas empresas ocidentais registraram aumento significativo nas vendas para a Rússia. A japonesa Tsugami e a sul-coreana Hyundai Wia lideraram o fornecimento de máquinas de usinagem, enquanto a americana Nidec Minster Corporation e a alemã Emag GmbH ampliaram suas exportações em 26 e 13 vezes, respectivamente, no mesmo período.
Entre os países da União Econômica Eurasiática (EAEU), Belarus se destacou como principal fornecedora de dispositivos ópticos, com exportações superiores a US$ 440 milhões (R$ 2,58 bilhões), incluindo miras utilizadas em veículos blindados. Já nos setores de aviação e energia, empresas como Rolls-Royce, General Electric e CFM International ainda constam nas listas como fornecedoras, principalmente devido a vendas pontuais e equipamentos usados.