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Leitura de Domingo
20/04/2025 07:00:00

Por que as alergias estão piorando com as mudanças climáticas

Por que as alergias estão piorando com as mudanças climáticas

O aumento das temperaturas globais tem intensificado os casos de alergia, tornando-os mais frequentes, duradouros e graves. Um exemplo dramático ocorreu em 2016, em Melbourne, na Austrália, quando uma tempestade desencadeou um surto de "asma de tempestade", fenômeno raro em que grãos de pólen são levados às nuvens, desintegrados pela umidade e eletricidade, e retornam ao solo em partículas microscópicas, facilmente inaladas. Isso gerou um colapso nos serviços de saúde, oito vezes mais atendimentos por problemas respiratórios e a morte de dez pessoas, incluindo uma jovem de 20 anos.

Com a elevação das temperaturas e o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO?), as plantas tendem a produzir mais pólen e por períodos mais longos. Estudos mostram que o pólen se espalha antes e permanece no ar por mais tempo. Um exemplo é a ambrósia, uma planta altamente alergênica que, em determinadas regiões, aumentou sua temporada de polinização em até 25 dias nas últimas décadas. Uma única ambrósia pode liberar até um bilhão de grãos de pólen, afetando milhões de pessoas só nos Estados Unidos.

Além disso, o CO? intensifica a produção de pólen por estimular o crescimento das plantas. Gramas e carvalhos expostos a atmosferas com níveis elevados desse gás chegam a produzir até 13 vezes mais pólen. A ambrósia, além de mais prolífica, pode estar gerando formas de pólen ainda mais potentes no estímulo ao sistema imunológico humano.

A dispersão de espécies invasoras, como a própria ambrósia, amplia o impacto em regiões antes não afetadas. Países europeus como Hungria, Dinamarca e Holanda já registram sensibilização significativa ao pólen dessa planta, e estimativas apontam que, até 2050, os níveis de pólen de ambrósia no ar poderão quadruplicar. Cerca de dois terços desse aumento são atribuídos diretamente às mudanças climáticas, segundo pesquisadores.

As mudanças não se limitam à produção e à duração das temporadas. Eventos climáticos extremos, como tempestades e incêndios florestais, contribuem para o agravamento das alergias. Durante as tempestades, as correntes de ar elevam os grãos de pólen às nuvens, onde se rompem em partículas menores, que ao retornarem à superfície são mais facilmente inaladas, atingindo profundamente os pulmões.

Mesmo nos anos com níveis mais baixos de pólen, quem sofre de alergias tende a apresentar sintomas, pois a exposição contínua e crescente sensibiliza ainda mais o organismo. Nas cidades, estratégias como o plantio criterioso de espécies menos alergênicas podem ajudar a conter o problema. No entanto, o chamado "sexismo botânico", que prioriza árvores machos (que liberam pólen) em vez das fêmeas (que produzem frutos), tem contribuído para a poluição por pólen em áreas urbanas.

Cidades europeias vêm combatendo o problema com medidas diretas. Berlim, por exemplo, realiza buscas e remoções sistemáticas da ambrósia, enquanto a Suíça proibiu sua venda e importação. Já em décadas passadas, cidades americanas chegaram a mobilizar milhares de trabalhadores para eliminar manualmente essas plantas, reduzindo significativamente a liberação de pólen.

Outra medida apontada por especialistas é o monitoramento preciso dos alérgenos no ar. Apesar de ser possível acompanhar em tempo real índices de temperatura e precipitação, ainda é raro encontrar serviços que informem os níveis de alérgenos com precisão. Cada grão de pólen pode liberar quantidades diferentes de alérgenos, e isso varia conforme o clima. Para muitos cientistas, essa é uma lacuna grave no combate aos efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde.

Diante de tudo isso, os especialistas alertam: sem ações coordenadas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, mais pessoas sofrerão com alergias cada vez mais graves e prolongadas — e, em casos extremos, potencialmente fatais.