A Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) vendeu o Sistema Catolé-Cardoso, uma das principais estruturas de abastecimento de água de Maceió, à Braskem, empresa responsabilizada pelo afundamento do solo na capital alagoana. A transação, que envolve o valor total de R$ 108,9 milhões, foi homologada pela Justiça, mas só veio a público recentemente após ser revelada pela imprensa, gerando indignação entre vítimas da tragédia, especialistas e representantes sindicais.
Localizado no bairro do Bebedouro, diretamente afetado pela instabilidade geológica provocada pela mineração de sal-gema, o sistema foi transferido para a Braskem como parte de um acordo extrajudicial. Desse montante, R$ 86,1 milhões foram destinados à reparação do dano, enquanto R$ 22,8 milhões correspondem à indenização dos ativos. A Casal, como parte do entendimento judicial, se comprometeu a não acionar a Braskem futuramente por eventuais prejuízos decorrentes da situação geológica da área.
Segundo a Casal, os recursos da negociação serão investidos na criação de um novo sistema de abastecimento para substituir o atual Catolé-Cardoso, que segue abastecendo cerca de 15% da população de Maceió e cidades vizinhas. Inaugurado em 1952, o sistema representa uma das mais antigas e importantes fontes de fornecimento de água potável da capital.
A Braskem afirmou, em nota, que a estação continuará operando normalmente até que a Casal realize seu descomissionamento e que não utilizará o equipamento para uso próprio. No entanto, a empresa não divulgou mais detalhes, alegando a existência de cláusulas de confidencialidade no acordo firmado.
A transação, no entanto, foi duramente criticada pelo Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, que classificou a venda como lesiva ao interesse público e um risco à continuidade e qualidade de um serviço essencial para a população. “Essa negociação fere o interesse coletivo, representa um grave risco ao patrimônio público e coloca em xeque a continuidade e a qualidade de um serviço vital à população”, declarou a entidade em nota oficial.
Desde 2021, a Casal opera sob regime de concessões compartilhadas para os serviços de água e esgoto em diversas cidades do estado. Nos bastidores, já circula a previsão de que a empresa será completamente privatizada até 2027, por meio de leilão, a exemplo do que ocorreu anteriormente com a Companhia Energética de Alagoas (Ceal).