Os Estados Unidos transferiram para uma base no Oceano Índico aviões militares equipados com bombas projetadas para destruir estruturas subterrâneas fortificadas, numa ação interpretada como recado direto ao Irã: caso fracassem as negociações em torno do programa nuclear iraniano, uma ofensiva militar não está descartada. A movimentação ganhou peso com novas declarações do presidente Donald Trump, que voltou a ameaçar ataques a Teerã caso um novo acordo não seja firmado, segundo informações da agência Reuters.
Apesar da retórica crescente, especialistas em defesa alertam que uma ação militar não seria suficiente para acabar com a capacidade iraniana de desenvolver armas nucleares. O pesquisador Justin Bronk, do Royal United Services Institute (Rusi), afirma que, sem uma mudança de regime ou ocupação territorial, é improvável que um ataque consiga barrar os avanços nucleares do Irã. Ele avalia que uma ofensiva poderia, no máximo, retardar o programa, restabelecendo parte da dissuasão perdida nos últimos anos.
O “prazo de rompimento”, termo que se refere ao tempo necessário para produzir material físsil suficiente para uma bomba, foi reduzido pelo Irã para dias ou semanas após a saída dos EUA do acordo nuclear em 2018, durante o primeiro mandato de Trump. Agora, o presidente busca renegociar os termos: “Se eles não fizerem um acordo, haverá bombardeio”, afirmou.
A tensão também envolve Israel, cujo ministro da Defesa, Israel Katz, declarou que o Irã está mais vulnerável do que nunca a ataques contra suas instalações nucleares, destacando a necessidade de eliminar o que considera uma ameaça existencial ao país. Entretanto, analistas apontam que apenas os Estados Unidos têm tecnologia militar suficiente para atingir alvos como as usinas de enriquecimento de Natanz e Fordow, construídas em grandes profundidades. Bombardeiros B-2 norte-americanos, com bombas de até 30 mil libras, seriam os únicos eficazes contra essas estruturas.
O general aposentado da Força Aérea dos EUA, Charles Wald, destacou que Israel não dispõe de armamento com poder de destruição suficiente para comprometer tais instalações, o que limita suas capacidades operacionais. Mesmo assim, o efeito de um ataque pode não ser o desejado, como explicou Eric Brewer, da Nuclear Threat Initiative. Ele defende que ações militares poderiam apenas ganhar tempo e, em contrapartida, acelerar a corrida iraniana pela bomba.
A ameaça de ataque também pode levar a represálias diplomáticas por parte do Irã. Em publicação na rede social X (antigo Twitter), Ali Shamkhani, conselheiro do líder supremo Ali Khamenei, afirmou que novas ameaças externas podem levar à expulsão de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e à interrupção da cooperação com organismos internacionais.
James Acton, analista do Carnegie Endowment for International Peace, compartilhou dessa visão, afirmando que um bombardeio poderia ter como consequência direta a expulsão dos inspetores e uma aceleração do programa nuclear iraniano, o que remeteria a uma situação semelhante à da Coreia do Norte, que abandonou a cooperação internacional e acabou por desenvolver e testar armas nucleares.