O Hezbollah, grupo armado libanês apoiado pelo Irã, enfrenta uma conjuntura sem precedentes que pode levar ao seu desarmamento, segundo informações divulgadas pelo The Times of Israel. Após mais de um ano de intensos combates com Israel, o grupo perdeu força militar, posições estratégicas e líderes importantes, ao mesmo tempo em que cresce a pressão diplomática dos Estados Unidos sobre o Líbano e o Irã em busca de uma solução política.
Desde que o Hezbollah lançou ataques com foguetes em apoio ao Hamas, um dia após a ofensiva deste contra Israel em 7 de outubro de 2023, o grupo vem sendo alvo de pesadas retaliações israelenses. Em setembro de 2024, uma incursão terrestre de Israel no sul do Líbano alterou a correlação de forças na região, resultando na morte de diversos comandantes do Hezbollah, inclusive o histórico líder Hassan Nasrallah.
Em novembro do mesmo ano, foi firmado um acordo de cessar-fogo que determinava a retirada dos combatentes do Hezbollah para além do rio Litani e a transferência de suas posições para o Exército libanês. Fontes próximas ao grupo indicam que 190 dos 265 postos já foram entregues. Segundo David Wood, do International Crisis Group, “o conflito alterou de forma clara a situação no Líbano”.
Apesar do presidente libanês Joseph Aoun defender que o desarmamento deve ser debatido em um processo de diálogo nacional, os Estados Unidos têm se mostrado mais enfáticos. A enviada especial adjunta de Washington para o Oriente Médio, Morgan Ortagus, declarou que o processo “deve acontecer o mais rápido possível”. A pressão americana ocorre paralelamente à retomada das negociações nucleares com o Irã, o que pode influenciar diretamente os aliados armados de Teerã.
Embora o Hezbollah tenha indicado disposição para diálogo, analistas avaliam que o desarme completo só será viável com mais pressão. Para Hanin Ghaddar, do Washington Institute, o desarmamento é “inevitável” e poderá ocorrer por meio de uma integração dos combatentes ao Exército libanês ou por meio de novas ações militares israelenses.
David Wood acredita que há uma chance real de progresso: “É possível imaginar que o Hezbollah opte pelo desarmamento e até colabore com esse processo”. Já o cientista político Karim Bitar avalia que qualquer avanço dependerá da aprovação iraniana. “Sem um sinal verde de Teerã, duvido que o grupo entregue suas armas ao Exército libanês, mesmo que tenha a opção de formar um batalhão autônomo dentro das forças armadas do país”, afirmou. Para ele, as decisões futuras estão fortemente atreladas ao desfecho das negociações entre os Estados Unidos e o Irã.