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Mundo
17/04/2025 14:00:00

Êxodo migratório esvazia Cuba e agrava crise econômica e social no país

Êxodo migratório esvazia Cuba e agrava crise econômica e social no país

A saída em massa de cubanos da ilha tem se intensificado nos últimos anos, provocando impactos severos na economia, nos serviços públicos e na estrutura demográfica de Cuba. Em meio a uma crise econômica profunda, agravada após a pandemia de covid-19, a população tem deixado o país em busca de melhores condições de vida, levando o número de habitantes ao mesmo patamar da década de 1980.

O jovem Davi Obispo, de 20 anos, é apenas um entre milhares de cubanos que se preparam para deixar o país. Atuando como auxiliar de biblioteca, ele decidiu emigrar para o Brasil em busca de oportunidades de trabalho e a chance de ajudar financeiramente a família que permanece na ilha. A decisão reflete o sentimento crescente entre os jovens cubanos diante da deterioração das condições de vida.

Dados da Oficina Nacional de Estatística e Informações (ONEI) mostram que Cuba perdeu cerca de 10% de sua população nos últimos três anos, encerrando 2023 com aproximadamente dez milhões de habitantes. A taxa de crescimento populacional, que já era negativa desde 2015, passou a registrar um recuo médio de -0,4% ao ano a partir de 2021, intensificado pela saída contínua de jovens em idade produtiva.

Esse êxodo afeta diretamente setores vitais da economia e dos serviços públicos. Faltam trabalhadores nas plantações e no setor de turismo, dois pilares da economia cubana, e há carência crescente de médicos, inclusive especialistas como cardiologistas e anestesiologistas. O número de médicos caiu de 510 mil para 421 mil até 2023, e alguns serviços hospitalares precisaram ser suspensos por falta de profissionais.

Segundo Omar Everleny Pérez Villanueva, economista e ex-diretor do Centro de Estudos Econômicos Cubanos da Universidade de Havana, o fenômeno atinge principalmente pessoas entre 19 e 49 anos, o que compromete a força de trabalho e desestrutura setores como saúde, educação e assistência social.

A taxa de natalidade também despenca. De 11,2 por mil habitantes em 2013, caiu para 8,8 em 2023. A ONU projeta que, caso a tendência se mantenha, a população cubana poderá ser reduzida à metade até o fim do século.

Entre os fatores que impulsionam a migração estão a inflação descontrolada — que chegou a 30% em 2023, podendo ser muito maior no mercado informal — e o agravamento do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. A retórica hostil do presidente Donald Trump, que recolocou Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo e ameaçou revogar o status legal temporário de milhares de cubanos nos EUA, tem dificultado ainda mais o cenário.

Ainda assim, mudanças internas também influenciam o fluxo migratório. O governo cubano flexibilizou regras para migração de longa duração, permitindo que cidadãos mantenham direitos civis, como propriedade, caso retornem ao país em até dois anos. Em 2021, a Nicarágua também retirou a exigência de visto para cubanos, criando uma nova rota migratória em direção aos EUA, pela chamada “ruta de los volcanes”.

A situação já preocupa especialistas, que veem no movimento migratório um desafio sem perspectiva de reversão no curto prazo. Com uma safra de cana-de-açúcar fraca, queda no turismo e falta de mão de obra, o país enfrenta um dilema estrutural. Para Villanueva, caso surjam investimentos e um plano de desenvolvimento, Cuba pode chegar ao ponto de precisar importar trabalhadores para atender às suas demandas básicas.



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