Dois cidadãos chineses capturados por forças ucranianas enquanto lutavam ao lado da Rússia foram apresentados publicamente em Kiev na segunda-feira, 8 de abril. As autoridades ucranianas afirmam que ambos foram detidos na região de Donetsk, no leste do país, e que sua presença comprova o recrutamento de estrangeiros por Moscou, inclusive de nações que oficialmente se mantêm neutras no conflito. As informações foram divulgadas pela revista Newsweek.
Durante a coletiva de imprensa, os prisioneiros Wang Guanjung e Zhang Renbo criticaram duramente o governo russo. “Tudo o que a Rússia nos ofereceu são mentiras. São falsidades. A Rússia não é tão forte quanto afirma, e a Ucrânia não é tão atrasada quanto dizem”, afirmaram os detidos. Os dois alegaram ter sido atraídos por promessas enganosas. Wang, nascido em 1991, declarou ter visto um anúncio no TikTok prometendo altos salários, enquanto Zhang, nascido em 1998, viajou à Rússia para trabalhar na construção civil, mas acabou recrutado para as tropas.
Ambos negaram vínculos com o governo chinês e afirmaram não ter participado diretamente de ações contra soldados ucranianos. Durante o depoimento, expressaram arrependimento e manifestaram desejo de retornar para casa em uma possível troca de prisioneiros. Zhang declarou: “Sei que posso ser punido, e aceito isso, mas ainda assim quero voltar para minha família.” Wang, por sua vez, afirmou: “A guerra real é completamente diferente do que vemos em filmes. Me arrependo, quero pedir perdão aos meus pais. Meu único desejo é voltar para a China e fazer tudo o que for necessário para isso.”
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, ao comentar o caso nas redes sociais, afirmou que há indícios de que mais cidadãos chineses estejam servindo às tropas russas. “Temos informações que sugerem que há muitos mais chineses nas unidades do ocupante”, declarou.
Em resposta às acusações, o governo chinês reafirmou sua neutralidade no conflito. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, afirmou que “a China não iniciou a crise na Ucrânia, nem é parte dela”, buscando afastar qualquer vínculo com os prisioneiros apresentados por Kiev.
Apesar das negativas, evidências de apoio chinês à Rússia continuam a surgir. Segundo dados de setembro de 2023 citados pela CNBC, a China teria vendido mais de US$ 500 milhões em semicondutores à Rússia em 2022, contra US$ 200 milhões no ano anterior.
Os Estados Unidos também reagiram com firmeza. A porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, declarou que “a China é uma grande facilitadora da Rússia na guerra na Ucrânia”, apontando que quase 80% dos itens de uso duplo utilizados por Moscou em sua ofensiva são fornecidos por Beijing.