O líder conservador Friedrich Merz, apontado como provável novo chanceler da Alemanha, sinalizou neste domingo (13) a intenção de fornecer mísseis de cruzeiro Taurus à Ucrânia. Em entrevista à emissora ARD, Merz afirmou que o envio do armamento poderá ser efetivado caso haja apoio dos aliados europeus, o que representaria uma mudança significativa na postura do governo alemão em relação ao conflito com a Rússia.
Os mísseis Taurus KEPD 350, com alcance de até 500 quilômetros, têm sido evitados pelo atual governo do chanceler Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), que teme que o armamento seja utilizado para atingir alvos dentro do território russo, incluindo Moscou. Outro fator sensível seria a necessidade de envolvimento técnico direto das forças armadas alemãs para operar o sistema de mira dos mísseis, o que, segundo Scholz, poderia tornar a Alemanha parte ativa da guerra iniciada em fevereiro de 2022.
Merz, que lidera a coalizão CDU/CSU com o SPD e deve assumir o cargo em 6 de maio, já havia defendido o fornecimento dos Taurus em outubro de 2024, quando ainda ocupava o posto de líder da oposição. Na ocasião, afirmou que caberia ao presidente russo Vladimir Putin decidir até onde estaria disposto a levar a escalada do conflito. Sua posição foi criticada por social-democratas, que acusaram o conservador de colocar em risco a segurança nacional alemã com declarações provocativas.
Na nova entrevista, Merz reforçou que a Ucrânia precisa ter condições de deixar a posição defensiva. Para ele, permitir que Kiev ataque a principal ligação terrestre entre a Rússia e a Crimeia — referência à ponte construída sobre o estreito de Querche — seria uma estratégia legítima diante da presença maciça de armamentos russos na península anexada em 2014.
A resposta russa veio de imediato e de forma agressiva. O ex-presidente da Rússia e atual vice-chefe do Conselho de Segurança Nacional, Dmitri Medvedev, reagiu com ofensas diretas, chamando Merz de "nazista" e sugerindo que ele estaria sendo assombrado pelo passado do pai, que serviu na Wehrmacht, o exército da Alemanha nazista. Medvedev ainda reforçou a ameaça em relação à sugestão de destruir a ponte da Crimeia.
O Kremlin, por meio de seu porta-voz Dmitri Peskov, classificou Merz como defensor de uma linha dura que pode intensificar ainda mais a guerra na Ucrânia. Segundo ele, posições semelhantes têm sido observadas em outras capitais europeias.
Apesar das críticas russas, a proposta de Merz recebeu apoio de importantes figuras da diplomacia europeia. O ministro das Relações Exteriores da Holanda, Caspar Veldkamp, declarou que o envio dos Taurus seria um sinal claro de união europeia frente à agressão russa. O chanceler polonês, Radoslaw Sikorski, também elogiou a iniciativa como positiva.
Já a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, destacou a necessidade de fortalecer a capacidade de autodefesa da Ucrânia e preservar vidas civis. Ela ainda anunciou que o bloco europeu prepara o 17º pacote de sanções contra Moscou, que deverá ser apresentado na próxima reunião dos ministros das Relações Exteriores, marcada para maio.