O Brasil enfrenta um cenário cada vez mais grave de interligação entre crimes florestais, tráfico de drogas, mineração ilegal e outras atividades ilícitas, segundo relatório divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc). O estudo revela que o país é um dos mais afetados por essa rede criminosa complexa e crescente, especialmente na região da Amazônia Legal.
O levantamento destaca que, em 2021, diversos municípios da Amazônia brasileira registraram taxas de homicídio significativamente acima da média nacional. Enquanto a média do país era de 21,3 homicídios por 100 mil habitantes, a média na região amazônica chegou a 29,6. A Unodc atribui parte desse cenário à disputa entre facções criminosas pelo domínio do tráfico de drogas e outras operações ilícitas.
Essas organizações utilizam atividades como a extração ilegal de madeira e a ocupação de terras para ampliar influência, controlar territórios e lavar dinheiro proveniente do tráfico. A compra e especulação de terras, além de investimentos em agricultura e pecuária, são estratégias identificadas no estudo como formas de inserção do crime organizado nas cadeias econômicas legais.
A mineração ilegal também está diretamente envolvida nesse esquema, com destaque para a expansão das operações na Terra Indígena Yanomami, onde houve um aumento de 625% na atividade entre 2011 e 2021. O relatório cita a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) nessa região, cujas comunidades indígenas vêm sofrendo consequências severas, como contaminação dos rios por mercúrio, tráfico de drogas, exploração sexual e ataques a lideranças locais.
A diretora de Pesquisa e Análise do Unodc, Angela Me, afirmou que os crimes ambientais não ocorrem de forma isolada. Segundo ela, há ligação direta com tráfico de vida selvagem, uso de trabalho infantil e corrupção. Angela alerta ainda para a conivência de empresas legalmente estabelecidas que, na tentativa de maximizar lucros, também recorrem ao desmatamento e à exploração ilegal de recursos naturais.
O estudo ressalta que o combate a essas ameaças interconectadas exige regulamentações mais rigorosas, fiscalização eficiente e revisão constante das estratégias políticas para fechar brechas utilizadas por criminosos. O documento aponta ainda que a madeira extraída ilegalmente entra nos mercados formais com a ajuda de documentos falsos, subornos e participação de servidores públicos e empresas cúmplices.
A Amazônia Legal abrange nove estados brasileiros e concentra cerca de 60% da Floresta Amazônica. A permanência das atividades criminosas nesse território não apenas compromete a biodiversidade, mas também coloca em risco a economia, a segurança nacional e o futuro das comunidades indígenas e tradicionais que dependem diretamente da floresta.