Indígenas participantes da marcha do 21º Acampamento Terra Livre (ATL) foram alvo de repressão policial nesta quinta-feira (10), em Brasília. Durante a mobilização em frente ao Congresso Nacional, agentes da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) e da Polícia Legislativa usaram bombas de gás contra os manifestantes, entre os quais estava a deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG), que precisou de atendimento médico após ser atingida pelos agentes.
Em vídeo divulgado por sua assessoria, Célia Xakriabá aparece tentando atravessar uma barreira policial enquanto relata ardência nos olhos e se identifica como parlamentar. Segundo nota oficial, mesmo após se apresentar como deputada federal eleita, ela foi impedida de deixar o local e teve dificuldades para receber socorro, que só foi prestado dentro da Câmara dos Deputados.
A deputada registrou ocorrência no Departamento de Polícia Legislativa da Câmara, denunciando violência política e de gênero. A nota ainda informa que socorro às vítimas foi retardado, obrigando os indígenas a implorar por atendimento médico, enquanto o Corpo de Bombeiros demorava a agir. Xakriabá marcou uma coletiva para a manhã desta sexta-feira (11), na Câmara, para tratar do assunto.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) repudiou a ação e afirmou que os atos violentos fazem parte de um padrão de repressão institucional contra os povos originários. A entidade destacou uma reunião realizada na véspera do protesto entre a Secretaria de Segurança Pública do DF e representantes do movimento, durante a qual um dos participantes teria antecipado a truculência dizendo: “Deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça”.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) reforçou que a manifestação era pacífica e que os participantes portavam apenas instrumentos ritualísticos utilizados em cantos e rezas. Ainda não há confirmação do número de feridos, mas diversos indígenas precisaram de atendimento médico e retornaram ao acampamento após a ação policial. A Tropa de Choque chegou a ameaçar remover os manifestantes à força.
A ação gerou forte reação nas redes sociais. A deputada Erika Kokay (PT-DF) classificou como inadmissível o uso de bombas contra os manifestantes. “Eles vieram com cantos, lutas e esperanças. Foram recebidos com bombas”, escreveu. O deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF), que acompanhava o protesto, também divulgou vídeos criticando a repressão.
A assessoria da Câmara dos Deputados informou que cerca de mil indígenas teriam ultrapassado os gradis de segurança, invadido o gramado do Congresso e tentado avançar até o Palácio do Congresso Nacional. A Polícia Legislativa usou agentes químicos para conter a invasão e impedir a entrada no prédio. Já a PM-DF disse que a ação se deu após os manifestantes ultrapassarem os limites previamente acordados com a organização.
O Senado Federal afirmou que os agentes utilizaram apenas meios não letais e que a situação foi controlada, destacando que respeita o direito à manifestação pacífica, mas reforçando a necessidade de segurança para parlamentares, servidores e visitantes nas dependências do Congresso.