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Geral
10/04/2025 22:00:00

Creches brasileiras registram mais crianças negras do que brancas pela primeira vez

Creches brasileiras registram mais crianças negras do que brancas pela primeira vez

Pela primeira vez na história, o número de crianças negras matriculadas em creches no Brasil superou o de crianças brancas. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (9) pelo Censo Escolar 2024 do Ministério da Educação (MEC), revelam que 40,2% das matrículas nas creches em 2023 foram de crianças negras, enquanto 38,3% foram de crianças brancas. No ano anterior, as proporções eram de 34,7% e 35,1%, respectivamente.

O crescimento foi ainda mais expressivo nas creches públicas, onde a presença de crianças negras passou de 38% para 45%. Para Mariana Luz, diretora executiva da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, esse avanço é relevante, mas ainda aquém do necessário diante da urgência de reparação histórica e das desigualdades enfrentadas por essa população.

Crianças negras ainda são as mais vulneráveis, alerta especialista

Segundo Mariana Luz, a superação numérica é simbólica, mas o cenário exige políticas públicas mais robustas. “Essas são as crianças mais vulnerabilizadas, como apontam os dados do Cadúnico, e deveriam ter prioridade no acesso à creche, etapa que ainda é facultativa no Brasil”, ressalta.

Ela defende a adoção de estratégias de busca ativa para garantir que crianças negras tenham acesso à educação infantil, especialmente porque 66% das matrículas nessa etapa ocorrem na rede pública.

Importância da educação infantil para o desenvolvimento e o futuro

A especialista destaca que o Brasil segue em uma tendência positiva de expansão da educação infantil, considerada uma fase essencial do desenvolvimento. “É nesse período que o cérebro da criança está a todo vapor, com picos de desenvolvimento e milhões de conexões neurais por segundo”, explica.

Dados indicam que até os seis anos de idade, 90% do cérebro humano já está formado. Segundo Mariana, garantir educação de qualidade nessa fase aumenta consideravelmente o potencial de aprendizado ao longo da vida, podendo triplicar os níveis de absorção de conhecimento.

Educação de qualidade gera impactos sociais e econômicos

Estudos citados pela especialista demonstram que o acesso à educação infantil de qualidade está diretamente relacionado a melhores oportunidades futuras, como maior inserção no mercado de trabalho e desenvolvimento de competências socioemocionais.

Ela afirma que o Brasil precisa tratar o acesso à creche como uma prioridade urgente, reforçando o papel dos municípios na oferta desse serviço, mas também exigindo cooperação dos estados e da União, conforme previsto no pacto federativo.

Estagnação e desafios persistem no acesso à creche

Apesar de avanços pontuais, o Censo Escolar apontou que o crescimento nas matrículas em creches foi de apenas 1,5%, e que apenas 38,7% das crianças de 0 a 3 anos estão matriculadas — abaixo da meta de 50% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação. Outro dado preocupante foi a queda de 0,6% na pré-escola, etapa que antecede o ensino fundamental.

Segundo Mariana Luz, as crianças fora da pré-escola são majoritariamente aquelas em situação de maior vulnerabilidade socioeconômica — justamente as que mais se beneficiariam de um ambiente escolar estruturado.

Ela conclui dizendo que o Brasil precisa de um sistema educacional que coloque as crianças no centro das políticas públicas e reconheça essa fase como a maior oportunidade para romper ciclos de pobreza e enfrentar desigualdades sociais.



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