Com o colapso do cessar-fogo entre Israel e Hamas em 18 de março, mais de mil pessoas já perderam a vida na Faixa de Gaza. A intensificação dos ataques resultou em destruição em massa, ordens de deslocamento forçado e sérias restrições à ajuda humanitária, segundo altos representantes das Nações Unidas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou profunda preocupação com a situação e condenou a violência crescente.
De acordo com o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, o secretário-geral ficou chocado com o ataque israelense a um comboio médico e de emergência em 23 de março, que matou 15 trabalhadores humanitários em Gaza. Equipes de resgate alinharam os corpos das vítimas em Tal Al Sultan, no sul do território.
Mais de 400 profissionais humanitários mortos desde o início da guerra
Desde outubro de 2023, pelo menos 408 profissionais da área humanitária morreram na região, incluindo 280 funcionários da própria ONU. Somente nos dois dias mais recentes, as ofensivas de Israel provocaram deslocamento de mais de 100 mil palestinos e causaram destruição em larga escala.
O secretário-geral ressaltou a importância da resolução 2735 do Conselho de Segurança da ONU, que rejeita qualquer tentativa de alteração demográfica ou territorial em Gaza. Ele demonstrou preocupação com discursos que incentivam a ocupação de territórios para expandir áreas de segurança de Israel.
Ataques atingem até prédios em ruínas
Philippe Lazzarini, comissário-geral da Unrwa, afirmou que um edifício da agência foi bombardeado em Jabalia, no norte de Gaza, mesmo estando seriamente danificado desde o início da guerra. Segundo ele, mais de 700 pessoas estavam abrigadas no local, entre elas nove crianças, incluindo um recém-nascido de apenas duas semanas. Famílias continuaram no abrigo após o ataque por não terem para onde ir.
Instalações da ONU sob ataque e uso militar
Mais de 300 instalações da ONU já foram danificadas ou destruídas, apesar de suas localizações serem comunicadas regularmente às partes envolvidas no conflito. Estima-se que mais de 700 civis foram mortos enquanto buscavam abrigo nesses locais. Lazzarini afirmou que algumas dessas estruturas teriam sido utilizadas por forças armadas palestinas, como o Hamas, e também por tropas israelenses, o que, segundo ele, representa um grave desrespeito ao direito internacional.
“Guerra sem fronteiras e sem limites”
Jonathan Whittall, diretor interino do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), descreveu Gaza como uma armadilha mortal, onde a população enfrenta um ciclo constante de dor e morte. Após o fim do cessar-fogo, 64% do território passou a estar sob ordens de deslocamento forçado ou inserido na chamada “zona tampão”.
Ele relatou que todas as padarias apoiadas pelo Programa Mundial de Alimentos estão fechadas, mercados foram destruídos e equipes de ajuda têm sido alvo de ataques. Whittall apelou para que os Estados-membros da ONU usem sua influência política e econômica para garantir o cumprimento das leis internacionais, alcançar um novo cessar-fogo, encerrar o massacre e garantir a libertação de reféns.