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Comportamento
10/04/2025 07:00:00

Adolescência e autismo: quando o mundo interno pesa mais que o externo

Adolescência e autismo: quando o mundo interno pesa mais que o externo

Inspirada pela série Everything Now, da Netflix, a reflexão traz à tona os desafios emocionais enfrentados por adolescentes no espectro autista, abordando com sensibilidade as camadas invisíveis da experiência neurodivergente. Mesmo sem mencionar diretamente o autismo, a série acompanha a jornada de Mia, uma jovem que retorna à escola determinada a recuperar o tempo perdido, tentando se adaptar aos novos códigos sociais. Sua história, permeada por ansiedade, inseguranças e necessidade de aceitação, espelha vivências comuns à adolescência — e ainda mais intensas para quem vive com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Quando sentir é mais difícil do que parecer

O autismo traz consigo vulnerabilidades que se aprofundam durante a puberdade. Adolescente algum escapa dos dilemas dessa fase, mas os jovens no espectro muitas vezes enfrentam dificuldades em nomear e expressar o que sentem. Mesmo rodeados por colegas, redes sociais ou familiares, podem experimentar uma solidão emocional silenciosa. Sentem profundamente, mas frequentemente sem encontrar meios para comunicar suas emoções ou garantir um espaço seguro para se expressar.

Sensibilidade e rigidez em um mundo que muda rápido demais

Na série, a tentativa de Mia de se reconectar com a escola destaca uma sensação frequente entre adolescentes autistas: a de estar fora de sintonia com o ambiente ao redor. Para muitos, mudanças sutis como novas gírias, alterações na rotina ou mesmo transformações físicas nos colegas podem gerar forte ansiedade e confusão. Hipersensibilidade sensorial — a barulhos, luzes, cheiros — e dificuldade de interpretar nuances sociais, como ironia ou duplo sentido, tornam esses ambientes ainda mais desafiadores. O mundo, para eles, pode parecer barulhento e desordenado demais diante da complexidade do que sentem por dentro.

Falar de saúde mental é urgente — e precisa incluir a neurodiversidade

Em tempos de crescentes índices de ansiedade, depressão e automutilação entre adolescentes, é essencial que o debate sobre saúde mental contemple também os jovens autistas. Eles estão mais expostos ao sofrimento psíquico, principalmente quando não recebem apoio suficiente para desenvolver autonomia emocional, habilidades sociais e uma autoestima sólida. A adolescência cobra presença, relação, identidade — exigências ainda mais difíceis para quem lida com impulsos, frustrações e barreiras na comunicação.

Empatia, escuta e representatividade como pontes para a inclusão

Rotular esses adolescentes como “difíceis” ou “desajustados” apenas agrava a exclusão. O caminho é escutar sem julgar, acolher com empatia e criar redes de apoio reais. Embora Everything Now não trate diretamente do TEA, a série pode servir como porta de entrada para refletirmos sobre o que é ser diferente — e como essas diferenças devem ser respeitadas. Ainda há pouca representação de personagens autistas em filmes e séries, mas a visibilidade cresce à medida que se reconhece o valor da diversidade neurológica.

Na Semana de Conscientização do Autismo, fica o lembrete: não há um único jeito de ser adolescente no espectro. Alguns são verbais, outros usam sistemas de comunicação alternativa. Alguns gostam de interação social, outros preferem a solitude. Todos têm em comum o direito de viver essa fase com dignidade, apoio e respeito.

Como sociedade, precisamos ampliar nossa escuta, abrir mais espaços e garantir que essas vozes sejam ouvidas. Que mais produções, conversas e ações reconheçam a riqueza da experiência neurodiversa — e tornem visível o que, muitas vezes, permanece oculto.



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