Sudão do Sul está à beira de nova guerra civil, alerta secretário-geral da ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou nesta sexta-feira, 28 de março, que o Sudão do Sul está se aproximando perigosamente de uma nova guerra civil, em cenário semelhante aos conflitos violentos de 2013 e 2016, que resultaram na morte de mais de 400 mil pessoas. Em pronunciamento direto de Nova Iorque, Guterres destacou a escalada dos confrontos, os bombardeios a civis, a presença de combatentes estrangeiros e a intensificação da violência étnica como elementos que colocam o país "à beira de um abismo".

Crise política, repressão e desinformação alimentam conflito

A prisão do primeiro vice-presidente Riek Machar agravou a instabilidade política. Para o chefe da ONU, a fragmentação do governo de Unidade Nacional, combinado com a perseguição étnica por forças de segurança e a propagação de fake news pelas redes sociais, está acelerando o colapso do acordo de paz firmado em 2018. “A segmentação étnica e política está acendendo o pavio para algo ainda pior”, alertou.

Guterres apelou aos líderes sul-sudaneses para que abandonem a política de confronto, libertem militares e civis presos e se comprometam com o pleno restabelecimento do governo de coalizão. Ele também pediu apoio decisivo da comunidade internacional e regional para proteger o processo de paz e evitar que o país mergulhe novamente em guerra aberta.

Ofensivas militares e bombardeios a civis agravam tensão

Nos últimos dias, a tensão aumentou com confrontos diretos entre as Forças de Defesa do Povo do Sudão do Sul e o Exército de Libertação do Povo do Sudão em áreas ao sul da capital, Juba, e em Wunaliet. No norte, na região do Alto Nilo, o chamado Exército Branco — uma milícia formada por jovens — atacou um quartel das forças do governo em Nasir. A resposta veio com bombardeios aéreos que atingiram zonas civis, utilizando, segundo relatos, bombas de barril com alto poder inflamável.

Acordo de paz em risco e crise humanitária se agravam

O acordo de paz de 2018, que estabeleceu uma coalizão liderada pelo presidente Salva Kiir e Riek Machar como vice-presidente, está seriamente ameaçado. Guterres afirmou que esse pacto é “a única estrutura legal” capaz de viabilizar eleições livres e pacíficas previstas para dezembro de 2026. Para mediar a crise, um “painel dos sábios” será formado com o objetivo de dialogar com os dois lados e restabelecer as condições mínimas para a paz.

Além da violência crescente, o Sudão do Sul enfrenta uma grave crise humanitária. Cerca de 75% da população depende de ajuda internacional e metade dos cidadãos vive sob insegurança alimentar aguda. A Missão das Nações Unidas no país (Unmiss) atua na proteção de civis e tentativa de contenção da violência, mas enfrenta sérias limitações operacionais diante da escalada do conflito.