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Mundo
07/04/2025 00:00:00

China envia veteranos militares para treinar crianças no Tibete com foco em doutrinação ideológica e disciplina rígida

China envia veteranos militares para treinar crianças no Tibete com foco em doutrinação ideológica e disciplina rígida

Veteranos do Exército de Libertação Popular (ELP) da China estão atuando como instrutores em escolas do Tibete, como parte de uma política nacional que visa consolidar o controle de Beijing sobre a região por meio da formação ideológica de crianças. Segundo informações obtidas pela rede Radio Free Asia (RFA), o programa já está em prática em instituições localizadas nas cidades de Lhasa, Chamdo e Nagchu, além de áreas com comunidades tibetanas nas províncias de Sichuan, Gansu e Qinghai.

As imagens veiculadas por emissoras estatais mostram alunos trajando uniformes militares, marchando, hasteando a bandeira chinesa e participando de exercícios como evacuações simuladas e treinos contra ataques aéreos. Em Nagchu, por exemplo, treze veteranos foram designados como “instrutores escolares” em sete escolas, do nível fundamental ao médio, onde conduzem aulas com foco na transmissão de “valores corretos”, conforme informado pela imprensa oficial.

O governo chinês declara que o objetivo da medida é fazer com que a “educação para a defesa nacional crie raízes desde a infância”, preparando os jovens tibetanos para o serviço militar. Uma fonte ouvida sob condição de anonimato afirmou que militares e membros do Partido Comunista Chinês (PCC) estão sendo destacados para promover uma educação ideológica que transforme os valores e comportamentos das crianças tibetanas.

Programa inclui ações políticas e controle sobre o cotidiano dos alunos

Além do treinamento físico e da disciplina severa, os veteranos exercem funções políticas dentro das escolas. Conforme relatos locais, eles também entram nos dormitórios após as aulas para reforçar padrões de conduta e transmitir valores da etnia han, majoritária na China. A rotina imposta inclui inspeções em alojamentos e o canto de hinos militares antes das refeições.

Uma segunda fonte destacou que essa abordagem tem o propósito de desmontar práticas culturais e modos de pensar que as crianças herdaram de suas famílias tibetanas. A política, estabelecida após uma emenda em 2024 à Lei de Educação para a Defesa Nacional, autoriza formalmente a presença de militares em instituições educacionais de todos os níveis.

O governo chinês celebrou o projeto-piloto em Sernye, onde mais de 300 estudantes já se inscreveram como futuros voluntários para o exército. A proposta faz parte do plano nacional para 2025, que prevê uma reformulação completa do currículo político da educação básica até o ensino superior.

Mudança curricular provoca preocupação entre educadores tibetanos

Tsewang Dorji, pesquisador do Tibet Policy Institute, revelou ter recebido textos anônimos de professores tibetanos que manifestam indignação diante das alterações no conteúdo escolar, agora repleto de propaganda que glorifica soldados do ELP como figuras heroicas.

Histórico de repressão e apagamento cultural no Tibete

A presença militar e a repressão no Tibete remontam à década de 1950, quando tropas chinesas ocuparam a região em uma ação descrita por Beijing como “libertação pacífica”. Em 1959, após uma revolta fracassada contra o controle chinês, forças do ELP esmagaram a resistência local, executaram defensores do Dalai Lama e destruíram inúmeros mosteiros. O líder espiritual, o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso, refugiou-se na Índia.

Desde então, a população tibetana vive sob medidas severas que restringem direitos humanos, liberdade religiosa e de expressão. O governo chinês impôs políticas de assimilação cultural, como o envio forçado de tibetanos a internatos e centros de treinamento profissional, práticas semelhantes às denunciadas contra os uigures em Xinjiang, e que têm gerado forte condenação de entidades internacionais de direitos humanos.



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