Na madrugada deste sábado (5), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deu início à jornada de lutas do Abril Vermelho em Pernambuco, ocupando a área da sede da falida Usina Santa Teresa, localizada no município de Goiana, na Zona da Mata Norte do estado. A usina pertence à Companhia Agroindustrial de Goiana (Caig), vinculada ao Grupo João Santos, que acumula um histórico de violência contra trabalhadores e dívidas trabalhistas com mais de 9 mil funcionários.
Segundo o dirigente nacional do MST, Jaime Amorim, cerca de 800 trabalhadores participaram da ocupação. Ele destacou que o movimento já mantinha dez acampamentos nas terras da usina e agora passou a controlar toda a área da sede. Amorim criticou a monocultura da cana-de-açúcar e afirmou que o MST pretende transformar a área em local de produção diversificada de alimentos, como legumes, arroz e inhame, aproveitando a fertilidade do solo.
Parte das terras da usina está sendo colocada à venda, o que motivou a ação do movimento. Amorim afirmou que o grupo está em diálogo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para garantir a desapropriação da área, reforçando que os terrenos devem ser destinados à reforma agrária.
Histórico de exploração e violência
Fundada em 1910 e comprada pelo empresário João Santos em 1935, a Usina Santa Teresa atingiu seu auge com produção de até 1,8 milhão de sacas de açúcar refinado por safra. Apesar da produtividade, o local era conhecido por más condições de trabalho, salários baixos e descumprimento de direitos trabalhistas. Em 1998, um episódio trágico marcou sua história: durante uma greve por melhores condições de trabalho, cortadores de cana foram emboscados por policiais e seguranças da usina. O trabalhador Luiz Carlos da Silva foi assassinado com um tiro na nuca e outros 13 foram feridos. Em 2008, 14 dos 15 acusados foram condenados por um júri popular, mas não chegaram a cumprir pena efetiva.
Em 2018, a Justiça condenou a usina e o Governo de Pernambuco a pagar indenização de R$ 100 mil à família do trabalhador assassinado. No mesmo ano, dois agricultores do MST foram mortos na Paraíba, numa fazenda pertencente à Caig, aumentando ainda mais o histórico de violência associado ao grupo empresarial.
Grupo João Santos enfrenta crise
O Grupo João Santos, um dos mais poderosos do Nordeste em décadas passadas, enfrenta uma grave crise financeira desde a morte do fundador, em 2009. O conglomerado, que atuava nos setores de cimento, açúcar, mineração, comunicação e outros, entrou em recuperação judicial. Neste mês, o grupo realizou um pagamento de mais de R$ 23 milhões a 2,4 mil trabalhadores, mas ainda deve a outros milhares de credores.
Nova ocupação no Agreste
Na noite do mesmo sábado, o MST realizou outra ocupação, desta vez em Riacho das Almas, no Agreste de Pernambuco. A Fazenda Galdino, com 500 hectares, pertence ao ex-prefeito de Cachoeirinha, Carlos Alberto Arruda Bezerra, conhecido como Beto de Tota.
Abril Vermelho: memória e luta
A ação em Goiana inaugura o Abril Vermelho, campanha nacional do MST que marca o mês de lutas por reforma agrária e justiça no campo. A mobilização é uma homenagem aos 21 trabalhadores assassinados no Massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, no Pará, quando uma marcha de camponeses rumo a Belém foi brutalmente reprimida pela Polícia Militar.