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Geral
06/04/2025 17:00:00

MST ocupa terras de usina acusada de assassinato de grevista em Goiana (PE)

MST ocupa terras de usina acusada de assassinato de grevista em Goiana (PE)

Na madrugada deste sábado (5), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deu início à jornada de lutas do Abril Vermelho em Pernambuco, ocupando a área da sede da falida Usina Santa Teresa, localizada no município de Goiana, na Zona da Mata Norte do estado. A usina pertence à Companhia Agroindustrial de Goiana (Caig), vinculada ao Grupo João Santos, que acumula um histórico de violência contra trabalhadores e dívidas trabalhistas com mais de 9 mil funcionários.

Segundo o dirigente nacional do MST, Jaime Amorim, cerca de 800 trabalhadores participaram da ocupação. Ele destacou que o movimento já mantinha dez acampamentos nas terras da usina e agora passou a controlar toda a área da sede. Amorim criticou a monocultura da cana-de-açúcar e afirmou que o MST pretende transformar a área em local de produção diversificada de alimentos, como legumes, arroz e inhame, aproveitando a fertilidade do solo.

Parte das terras da usina está sendo colocada à venda, o que motivou a ação do movimento. Amorim afirmou que o grupo está em diálogo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para garantir a desapropriação da área, reforçando que os terrenos devem ser destinados à reforma agrária.

Histórico de exploração e violência

Fundada em 1910 e comprada pelo empresário João Santos em 1935, a Usina Santa Teresa atingiu seu auge com produção de até 1,8 milhão de sacas de açúcar refinado por safra. Apesar da produtividade, o local era conhecido por más condições de trabalho, salários baixos e descumprimento de direitos trabalhistas. Em 1998, um episódio trágico marcou sua história: durante uma greve por melhores condições de trabalho, cortadores de cana foram emboscados por policiais e seguranças da usina. O trabalhador Luiz Carlos da Silva foi assassinado com um tiro na nuca e outros 13 foram feridos. Em 2008, 14 dos 15 acusados foram condenados por um júri popular, mas não chegaram a cumprir pena efetiva.

Em 2018, a Justiça condenou a usina e o Governo de Pernambuco a pagar indenização de R$ 100 mil à família do trabalhador assassinado. No mesmo ano, dois agricultores do MST foram mortos na Paraíba, numa fazenda pertencente à Caig, aumentando ainda mais o histórico de violência associado ao grupo empresarial.

Grupo João Santos enfrenta crise

O Grupo João Santos, um dos mais poderosos do Nordeste em décadas passadas, enfrenta uma grave crise financeira desde a morte do fundador, em 2009. O conglomerado, que atuava nos setores de cimento, açúcar, mineração, comunicação e outros, entrou em recuperação judicial. Neste mês, o grupo realizou um pagamento de mais de R$ 23 milhões a 2,4 mil trabalhadores, mas ainda deve a outros milhares de credores.

Nova ocupação no Agreste

Na noite do mesmo sábado, o MST realizou outra ocupação, desta vez em Riacho das Almas, no Agreste de Pernambuco. A Fazenda Galdino, com 500 hectares, pertence ao ex-prefeito de Cachoeirinha, Carlos Alberto Arruda Bezerra, conhecido como Beto de Tota.

Abril Vermelho: memória e luta

A ação em Goiana inaugura o Abril Vermelho, campanha nacional do MST que marca o mês de lutas por reforma agrária e justiça no campo. A mobilização é uma homenagem aos 21 trabalhadores assassinados no Massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, no Pará, quando uma marcha de camponeses rumo a Belém foi brutalmente reprimida pela Polícia Militar.



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