A greve dos auditores-fiscais da Receita Federal, que já se estende por mais de quatro meses, ameaça provocar atrasos no calendário de restituições do Imposto de Renda deste ano. O alerta foi feito pelo Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional), que representa a categoria e denuncia os impactos crescentes da paralisação sobre os serviços prestados aos contribuintes.
Segundo o presidente do sindicato, Dão Pereira dos Santos, o movimento grevista já resultou em atrasos importantes, como o da liberação da declaração pré-preenchida, que só foi disponibilizada no dia 1º de abril — quase quinze dias após o início oficial do prazo de entrega, que começou em 17 de março. Ele advertiu que, caso a paralisação continue, poderá haver adiamento até mesmo nos pagamentos das restituições, o que afeta diretamente a população e a atividade econômica do país.
Os reflexos da greve não se limitam às declarações de imposto. O movimento também paralisou o julgamento de processos de sonegação fiscal e vem comprometendo a entrada e saída de mercadorias do território nacional. No comércio exterior, as perdas logísticas e operacionais já somam cerca de R$ 3,5 bilhões, com mais de 600 mil encomendas paradas em unidades da Receita.
No Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a paralisação provocou o travamento de julgamentos entre janeiro e fevereiro, afetando discussões que envolvem valores estimados em R$ 145 bilhões. O sindicato estima ainda que a greve já provocou a perda de R$ 14 bilhões em arrecadação no primeiro trimestre.
Durante assembleia realizada em 28 de março, mais de 5.600 auditores reafirmaram a continuidade da greve. A categoria reivindica aumento do salário-base, atualmente fixado em R$ 29 mil. Apesar de o governo ter concedido um reajuste de 9% e regulamentado um bônus de produtividade, os auditores argumentam que o bônus não deve ser considerado parte do salário e defendem equiparação com outras carreiras que receberam novos aumentos neste ano.
Sem acordo entre o governo federal e a categoria, o impasse continua pressionando as finanças públicas, especialmente em um contexto de arrecadação abaixo do esperado. A indefinição levanta dúvidas sobre a manutenção do cronograma original das restituições do Imposto de Renda, previsto para começar no dia 30 de maio, data que marca o encerramento do prazo para envio das declarações.
Até as 17h da última sexta-feira, a Receita Federal já havia recebido mais de 8,2 milhões de declarações. Segundo o órgão, todos os canais de envio estão operando normalmente, e mais de um milhão de contribuintes já utilizaram o sistema “Meu Imposto de Renda” desde o início do mês. A expectativa é que 46,2 milhões de declarações sejam entregues até o fim do prazo.