O Ministério Público Federal (MPF) realizou, nesta quinta-feira (3), uma visita à comunidade quilombola Filús, localizada na Serra dos Cachorros, em Santana do Mundaú, no interior de Alagoas. Marcada pelo isolamento geográfico e pela significativa presença de pessoas com albinismo, a comunidade enfrenta diversas dificuldades para acessar direitos fundamentais como saúde, educação, transporte e infraestrutura.
Procurador ouve moradores e aponta ações por melhorias
A visita foi conduzida pelo procurador da República Eliabe Soares, que destacou o objetivo de conhecer de perto a realidade dos cerca de 50 núcleos familiares que vivem em Filús. “Viemos conhecer vocês e nos colocar à disposição para buscar a melhoria da qualidade de vida na comunidade”, afirmou. O encontro buscou entender os principais desafios enfrentados pelos moradores e fortalecer o compromisso do MPF com a promoção de políticas públicas adequadas à realidade local.
Educação em estrutura precária e desafios para continuar os estudos
A única escola da comunidade, a Escola Municipal Ulisses Souza de Mendonça, atende alunos do 1º ao 5º ano em salas multisseriadas, com 27 estudantes divididos em dois grupos. Não há fornecimento de fardamento, e os estudantes que desejam seguir os estudos após o 5º ano precisam se deslocar para outras localidades, enfrentando trajetos longos e difíceis, especialmente em dias de chuva, pela precariedade da estrada e do transporte escolar.
Saúde limitada e risco ampliado por alta incidência de albinismo
A assistência em saúde é bastante limitada. O posto da comunidade funciona apenas quinzenalmente, às terças-feiras. Fora esse dia, em caso de urgência, os moradores dependem de transporte disponibilizado pela prefeitura. A situação se agrava devido ao alto número de pessoas com albinismo, que enfrentam sérios problemas de pele e visão, sendo a falta de acompanhamento médico contínuo um agravante. Protetores solares são fornecidos pela prefeitura, mas a regularidade desse serviço é essencial para prevenir complicações graves, como câncer de pele.
Falta de água potável e promessas de melhorias
O acesso à água também é um obstáculo. Embora uma ONG tenha perfurado um poço na comunidade, o equipamento ainda não está funcionando por falta de bomba. Atualmente, o abastecimento depende de uma cacimba com bomba que libera água para as casas em dias alternados. A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) informou que Filús está entre as localidades prioritárias para a perfuração de um novo poço e instalação de chafariz, mas não há prazos definidos.
Isolamento agravado por problemas na estrada
A comunidade sofre com o isolamento devido às dificuldades no acesso. Anteriormente, os moradores utilizavam uma estrada que passava por uma propriedade vizinha, mas conflitos sobre a passagem forçaram a prefeitura a abrir uma nova via, mais longa e afetada pelas chuvas. O antigo caminho, embora mais eficiente, está abandonado e coberto pelo mato, necessitando de recuperação.
Agricultura de subsistência e falta de estrutura para escoamento
A vida em Filús é pautada pela agricultura de subsistência, com o cultivo de frutas como banana, abacate e laranja, e a criação de porcos e carneiros. Os produtos são vendidos semanalmente, às quartas-feiras, mas a falta de infraestrutura compromete o escoamento da produção e reduz as possibilidades de geração de renda.
Limpeza urbana precária e necessidade de coleta regular
A ausência de coleta regular de lixo também preocupa os moradores. O acúmulo de resíduos representa riscos à saúde e ao meio ambiente, e a cobrança por um serviço mais eficiente será necessária junto à administração municipal.
A visita do MPF foi marcada por um momento de escuta e comprometimento. A comunidade quilombola Filús segue resistindo com dignidade e coragem, e o Ministério Público Federal reforça seu papel como aliado na luta por direitos e condições de vida mais justas.