A Faixa de Gaza enfrenta uma crise humanitária cada vez mais crítica após a retomada das ofensivas israelenses desde o fim do cessar-fogo em março. Operações militares intensificadas e a imposição de novas "zonas de segurança" por Israel forçaram o deslocamento de mais de 140 mil palestinos, agravando o sofrimento da população civil, especialmente mulheres e crianças.
Rafah deixa de ser zona segura e sofre novos ataques
Na última quinta-feira (03/04), tropas israelenses lançaram uma grande ofensiva em Rafah, ao sul do território palestino, que até então era considerada um refúgio seguro. No dia anterior, áreas como a Cidade de Gaza e o campo de refugiados de Jabalia foram duramente atingidas, incluindo uma escola e uma clínica da ONU, resultando em dezenas de mortos.
Netanyahu amplia pressão por reféns e cria novo corredor militar
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou um novo corredor de segurança entre Rafah e Khan Younis, com o objetivo de intensificar a pressão pelo retorno dos reféns em poder do Hamas. Segundo ele, o objetivo é “cortar a faixa” e forçar concessões por parte do grupo palestino, que respondeu rejeitando nova proposta de cessar-fogo e reafirmando que só libertará os reféns restantes mediante a soltura de prisioneiros palestinos, cessar-fogo permanente e retirada das tropas israelenses.
População civil é forçada a fugir repetidamente
Entre os dias 18 e 23 de março, aproximadamente 142 mil pessoas foram obrigadas a abandonar seus lares, conforme a UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos. Estima-se que mais de 60% do território da Faixa de Gaza esteja atualmente sob ordens de evacuação, sendo considerado “zona proibida” para civis. Mais de mil palestinos morreram desde o final de março, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.
Falta de comida e remédios afeta mulheres e crianças
O bloqueio israelense à ajuda humanitária provocou o fechamento de todas as padarias operadas pela ONU. Mulheres e crianças são os mais prejudicados, com mais de meio milhão de mulheres vivendo em insegurança alimentar. Muitas mães abrem mão das refeições para alimentar os filhos. Relatos indicam que crianças estão dormindo sem jantar e pais têm recorrido a mentiras para tranquilizá-las.
Explosivos não detonados causam mortes diárias
Além da escassez de alimentos e medicamentos, o risco de explosivos não detonados aumenta o número de vítimas. Estima-se que duas pessoas, em sua maioria crianças, morrem por dia ao manusearem restos de munições entre os escombros. Um adolescente de 15 anos, por exemplo, perdeu uma perna ao ser atingido por um projétil ao lado da própria casa destruída.
Suspeitas de plano para esvaziar Gaza ganham força
As constantes ofensivas e restrições à ajuda humanitária alimentam suspeitas de que Israel estaria tentando forçar o despovoamento de Gaza. Netanyahu afirmou publicamente que pretende implementar o plano de “migração voluntária” proposto por Donald Trump, que prevê o reassentamento de palestinos em países vizinhos, ideia rejeitada pela ONU e por grande parte da comunidade internacional, sendo considerada uma tentativa de limpeza étnica.
População sem esperança
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha alertou que a retomada dos combates destruiu a esperança dos habitantes da região. Civis relatam que a vida perdeu o sentido e que já não distinguem mais o que é viver ou morrer. Muitos palestinos, como o ex-professor Ihab Suliman, relatam ter sido forçados a fugir oito vezes desde o início da guerra.
A situação continua crítica, com o número de vítimas ultrapassando 50 mil mortos desde outubro de 2023, segundo autoridades de saúde de Gaza. A ONU considera os dados confiáveis, mesmo sem possibilidade de verificação independente.