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Geral
04/04/2025 11:00:00

Outra disputa por petróleo na Margem Equatorial gera alerta ambiental perto de Fernando de Noronha

Outra disputa por petróleo na Margem Equatorial gera alerta ambiental perto de Fernando de Noronha

Enquanto o debate sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas domina o cenário nacional, outro foco de tensão ambiental surge na Margem Equatorial brasileira. Trata-se da bacia marítima Potiguar, localizada entre o litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte, nas proximidades do arquipélago de Fernando de Noronha. Apesar dos riscos ambientais apontados por especialistas, o governo mantém a oferta de 17 blocos para o leilão de petróleo e gás agendado para junho.

Segundo relatório técnico divulgado em janeiro por um grupo de trabalho do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), parte dos blocos se sobrepõe a áreas de alta relevância ecológica, como a zona conhecida como Sírius, habitat de corais, tubarões, raias, tartarugas e baleias-cachalote, todas espécies ameaçadas de extinção. O parecer recomendou a retirada imediata de 31 blocos da chamada Oferta Permanente de Concessão. No entanto, apenas 14 foram excluídos devido à expiração de um documento conjunto entre o MMA e o Ministério de Minas e Energia (MME). Os demais 17 blocos seguem no leilão.

Governo mantém blocos mesmo com parecer contrário

A coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, criticou a decisão de ignorar o parecer técnico. Ela destaca que a bacia Potiguar apresenta características que a tornam ambientalmente sensível, com ecossistemas conectados e biodiversidade elevada.

O Ministério de Minas e Energia, por sua vez, minimizou os riscos ao afirmar que os blocos estão a mais de 350 km de Fernando de Noronha e não estão próximos de praias ou áreas oficialmente protegidas. A pasta ainda alegou que já houve exploração na região, incluindo a perfuração de dois poços em 2023 com licenciamento ambiental aprovado.

Riscos para corais e biodiversidade marinha

Especialistas alertam para o impacto que a exploração de petróleo pode causar sobre os frágeis recifes de corais da região. Vinicius Nora, do Instituto Internacional Arayara, aponta que, além de contribuir para o aquecimento global, a atividade petrolífera acarreta riscos diretos aos ecossistemas devido à prospecção sísmica, à liberação de contaminantes e à possibilidade de vazamentos de óleo.

Ele lembra que recifes de corais são fundamentais para a vida marinha, abrigando uma enorme diversidade de espécies. O processo de branqueamento dos corais, causado pelo aumento da temperatura dos oceanos, já ameaça esses habitats — e a presença de plataformas de petróleo pode acelerar ainda mais essa degradação.

Debate sobre critérios de licenciamento e saúde dos oceanos

O GTPEG, grupo técnico criado no atual governo para avaliar áreas ofertadas à exploração de petróleo, reforça que a bacia Potiguar deveria passar por uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), estudo mais completo que indicaria com clareza as regiões aptas ou não à atividade petrolífera. Para os especialistas, esse tipo de análise garantiria maior segurança ambiental e transparência no processo de concessão.

O MMA ressalta ainda a importância dos oceanos como reguladores do clima e lembra que sua preservação é essencial para enfrentar os efeitos da mudança climática. Um oceano saudável, afirmam os técnicos, é condição fundamental para garantir a resiliência dos ecossistemas marinhos e, consequentemente, a própria sobrevivência de populações humanas que dependem do equilíbrio ambiental para viver.



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