O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prepara-se para anunciar nesta quarta-feira (2) um novo pacote tarifário sobre importações, batizado de "Liberty Day" (Dia da Libertação). A medida, que visa impor tarifas recíprocas a países que taxam produtos americanos, pode provocar efeitos significativos no comércio global e afetar diretamente o Brasil, mesmo sem estar entre os principais alvos iniciais da nova política.
Pacote de tarifas recíprocas mira práticas comerciais "desleais"
Em pronunciamento previsto para acontecer no Jardim das Rosas, na Casa Branca, Trump deve oficializar o pacote elaborado nos últimos dias com sua equipe econômica. Segundo a secretária de imprensa Karoline Leavitt, o presidente está determinado a combater o que classifica como décadas de práticas comerciais injustas, assegurando que “vai funcionar”. Entre as propostas analisadas, está uma tarifa fixa de 20% sobre todos os produtos importados, com potencial de arrecadar mais de US$ 6 trilhões.
Trump afirmou que o plano será aplicado de forma “gentil”, mas com firmeza. “O que eles fazem conosco, nós faremos com eles”, disse o presidente, acrescentando que a medida afetará até países aliados.
Lista dos "Dirty 15" e reação global
De acordo com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, o foco inicial será sobre os países que mantêm altos déficits comerciais com os EUA e impõem tarifas elevadas a produtos americanos — os chamados "Dirty 15". A lista não foi divulgada oficialmente, mas inclui China, União Europeia, México, Canadá, Vietnã, Japão, Coreia do Sul, Malásia, Índia, África do Sul, entre outros.
Ainda que o Brasil não esteja entre os 15 principais alvos, o país pode ser impactado. Washington é o segundo maior parceiro comercial brasileiro, com um volume de trocas que em 2024 atingiu cerca de US$ 81 bilhões, praticamente equilibrado entre exportações e importações.
Brasil pode sofrer com a política de reciprocidade
Especialistas alertam que, mesmo fora do grupo mais visado, o Brasil corre o risco de sofrer com a aplicação de tarifas equivalentes às que impõe aos EUA. Segundo o Banco Mundial, a tarifa média brasileira sobre produtos americanos em 2022 foi de 11,3%, enquanto os EUA aplicam, em média, apenas 2,2% sobre os produtos brasileiros.
Se os EUA adotarem essa reciprocidade, as exportações brasileiras podem cair cerca de US$ 2 bilhões, representando uma retração de 5% no total exportado. Setores como petróleo, minério de ferro, aeronáutica e celulose seriam os mais afetados. A estimativa do Bradesco indica ainda que o real pode se desvalorizar em 1,5%, pressionando o IPCA em até 0,1 ponto percentual.
Mercado reage com cautela e Europa prepara resposta
A expectativa em torno do anúncio causou incerteza nos mercados financeiros. Jay Woods, da Freedom Capital Markets, afirmou que a falta de clareza nas medidas gera volatilidade, enquanto outros analistas alertam para o risco de inflação e recessão global caso uma nova guerra comercial se instale.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já sinalizou que a União Europeia poderá retaliar se as tarifas atingirem o bloco de forma significativa. “Estamos prontos para agir se necessário. Temos um plano sólido”, declarou, indicando que o confronto comercial pode ganhar proporções maiores nos próximos meses.
Próximos passos e tensões comerciais
Enquanto Trump mantém contatos limitados com líderes estrangeiros, priorizando interesses internos, cresce a expectativa sobre os efeitos práticos da nova política tarifária. Com déficits comerciais elevados e pressões internas para proteger a indústria americana, os EUA podem alterar o rumo das relações comerciais internacionais, impactando cadeias de suprimentos e acordos bilaterais.
Para o Brasil, resta acompanhar os desdobramentos e avaliar alternativas comerciais, diante de um cenário onde o protecionismo ganha força e a diplomacia comercial volta a ocupar o centro da agenda internacional.