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Saúde
02/04/2025 06:00:00

Por que lavar os pés é essencial para a saúde e não apenas para evitar mau cheiro

Por que lavar os pés é essencial para a saúde e não apenas para evitar mau cheiro

Durante o banho, é comum dedicarmos atenção especial a partes como as axilas, enquanto os pés muitas vezes passam despercebidos. No entanto, especialistas alertam que essa negligência pode trazer consequências indesejáveis. Segundo o sistema de saúde pública do Reino Unido (NHS) e os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), é fundamental lavar os pés diariamente com água e sabão para manter a saúde em dia.

Essa recomendação se justifica, entre outros motivos, pela necessidade de prevenir odores. As solas dos pés possuem cerca de 600 glândulas sudoríparas por centímetro quadrado, mais do que qualquer outra parte do corpo. Apesar de o suor ser inodoro, ele carrega nutrientes como sais, glicose, vitaminas e aminoácidos que servem de alimento para as bactérias ali presentes — e não são poucas. A umidade constante, especialmente entre os dedos, combinada ao uso contínuo de meias e calçados, cria o ambiente ideal para a proliferação microbiana.

A professora Holly Wilkinson, especialista em cicatrização de feridas da Universidade de Hull, no Reino Unido, explica que esse ambiente quente e úmido favorece o crescimento de microrganismos. As áreas úmidas da pele, como os pés, são locais de grande concentração bacteriana, incluindo espécies como Corynebacterium e Staphylococcus.

Fungos e bactérias: uma combinação perigosa para os pés

Além das bactérias, os fungos também encontram nos pés um habitat ideal. Gêneros como Aspergillus, Cryptococcus, Epicoccum, Rhodotorula, Candida e Trichosporon são comuns nessa região. Estudos indicam que os pés abrigam uma diversidade de fungos superior à de qualquer outra área do corpo humano.

Em uma análise feita com 40 voluntários, pesquisadores observaram que lavar os pés duas vezes por dia reduz drasticamente a quantidade de bactérias na pele. Aqueles que mantinham essa prática tinham cerca de 8,8 mil bactérias por centímetro quadrado, enquanto os que lavavam em dias alternados tinham mais de um milhão. No entanto, o problema não está apenas na quantidade, mas no tipo de microrganismo presente.

Os Staphylococcus, por exemplo, são os principais produtores dos ácidos graxos voláteis (AGV) responsáveis pelo mau cheiro nos pés. Esses microrganismos se alimentam das substâncias eliminadas pelo suor e liberam compostos como o ácido isovalérico, conhecido por seu odor semelhante ao de queijo forte. Uma pesquisa realizada em 2014 revelou que 98,6% das bactérias presentes nas solas dos pés de 16 indivíduos eram Staphylococcus, com maior concentração dos compostos causadores de odor nessa parte do corpo em comparação com o dorso do pé.

Higiene adequada previne doenças e complicações graves

A limpeza dos pés vai além da eliminação de odores. Manter essa área limpa ajuda a evitar infecções comuns, como o pé de atleta — uma infecção fúngica que geralmente afeta os espaços entre os dedos. Ambientes abafados, quentes e úmidos favorecem o desenvolvimento dessa condição, que pode causar coceira, erupções, descamação e rachaduras na pele.

Joshua Zeichner, dermatologista do Hospital Monte Sinai, em Nova York, destaca que a higiene adequada dos pés é fundamental para evitar infecções bacterianas mais sérias, como a celulite. Mesmo bactérias comuns como Staphylococcus e Pseudomonas, presentes naturalmente na pele, podem causar infecções graves se entrarem no organismo através de pequenas feridas.

Segundo Wilkinson, a recuperação de lesões nos pés tende a ser mais lenta, o que aumenta o risco de infecção. Por isso, lavar os pés regularmente reduz a presença de microrganismos e oferece uma oportunidade para examinar possíveis lesões ou rachaduras que poderiam passar despercebidas.

Diabéticos precisam redobrar os cuidados

Pessoas com diabetes devem ter atenção especial com a higiene dos pés. A doença aumenta a propensão a úlceras e infecções, além de comprometer o sistema imunológico, dificultando a cicatrização e a resposta do organismo a infecções. Estudos apontam que pacientes diabéticos têm maior presença de bactérias patogênicas na pele dos pés.

Como muitas vezes esses pacientes apresentam perda de sensibilidade nos pés, é ainda mais importante que lavem e examinem a região diariamente, como orienta Wilkinson. Pequenas lesões que não são detectadas a tempo podem levar a infecções graves e até à necessidade de amputação.

Lavar demais também pode ser prejudicial

Por outro lado, lavar os pés com frequência excessiva pode ter efeitos adversos, principalmente para quem não possui condições de saúde específicas. A pele depende de sua microbiota natural para se manter saudável. Microrganismos benéficos ajudam a combater bactérias nocivas, produzem lipídios que mantêm a hidratação e participam da cicatrização.

Banhos muito frequentes, especialmente com água quente e uso excessivo de sabonetes, podem remover esses microrganismos úteis e os óleos naturais da pele, provocando ressecamento, coceira, rachaduras e até inflamações como o eczema. A recomendação é evitar esfoliações agressivas e o uso indiscriminado de sabonetes antibacterianos, que podem alterar o equilíbrio microbiano da pele.

Secar bem é tão importante quanto lavar

Independentemente da frequência, a forma como os pés são higienizados faz diferença. Muita gente acredita que deixar a água do banho escorrer já é suficiente, mas isso não substitui a lavagem ativa com água e sabão. E tão essencial quanto a limpeza é a secagem correta, especialmente entre os dedos. A umidade retida nessa região é um prato cheio para infecções fúngicas como o pé de atleta.

De acordo com o neurocientista Dan Baumgardt, da Universidade de Bristol, o acúmulo de umidade entre os dedos, combinado com o calor, aumenta o risco de infecções. Por isso, após lavar os pés, é fundamental secá-los completamente.

Para quem tem diabetes, lavar os pés todos os dias é indispensável. Já para pessoas sem doenças pré-existentes, a recomendação de especialistas é que a lavagem a cada dois dias seja suficiente para manter a saúde dos pés sem comprometer a integridade da pele. No entanto, quem pratica atividades físicas com frequência deve intensificar a higiene.

No fim das contas, o importante é manter um equilíbrio: lavar os pés de forma adequada e na frequência certa, sem agredir a pele ou eliminar seus microrganismos protetores. Afinal, nossos pés merecem o mesmo cuidado dedicado ao restante do corpo — ou até mais.



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