Três anos após a reconquista de Bucha pelo Exército da Ucrânia, a cidade próxima a Kiev — marcada por ser palco de crimes cometidos por forças russas no início da invasão — ainda carrega cicatrizes profundas. De acordo com informações divulgadas pela Radio Free Europe (RFE), pelo menos 33 civis capturados durante a ocupação russa seguem desaparecidos e podem estar detidos na Rússia.
Entre os desaparecidos está Vladyslav Popovych, atingido por disparos e levado pelos soldados russos durante o ataque ocorrido em 2022. “Eles continuaram atirando mesmo quando estavam ajoelhados com as mãos levantadas”, contou Tetyana Popovych, mãe de Vladyslav, ao descrever a ação das tropas russas contra o grupo de combatentes ucranianos do qual seu filho fazia parte. Vladyslav foi ferido na perna e sumiu no dia 2 de março daquele ano, enquanto os russos ainda mantinham o controle da cidade.
Famílias seguem sem notícias dos sequestrados após três anos
Inicialmente, Tetyana acreditava que o filho pudesse ter se escondido em alguma área próxima. No entanto, dias depois ficou claro que ele havia desaparecido. A confirmação só veio meses mais tarde, após ela ter enviado um pedido formal ao Ministério da Defesa da Rússia: Vladyslav estava detido em Kursk, acusado de ter se oposto à chamada “operação militar especial” lançada por Moscou.
Desde então, a comunicação com ele foi quase inexistente. A mãe recebeu apenas uma carta em 2023. Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que casos como esse são comuns, e classificam essas detenções como crimes de guerra, já que os civis mantidos presos na Rússia permanecem incomunicáveis.
“Civis não podem ser sequestrados e levados à força de seu território. Todos os capturados nas regiões do norte da Ucrânia seguem sem qualquer contato”, declarou Anastasia Panteleyeva, da Iniciativa de Mídia pelos Direitos Humanos. A Organização das Nações Unidas já qualificou os desaparecimentos forçados promovidos pela Rússia como “sistemáticos e amplamente disseminados”.
Imagens de civis mortos expuseram massacre de Bucha ao mundo
Após a retirada das tropas russas, dezenas de corpos foram encontrados nas ruas de Bucha por soldados ucranianos que retomaram o controle do local. As imagens, divulgadas em 2 de abril de 2022 por agências internacionais, comoveram a opinião pública internacional.
As fotos revelaram corpos com as mãos amarradas nas costas, o que indicava execuções sumárias. Alguns estavam parcialmente enterrados, outros em valas comuns. Nenhum vestia trajes militares, indicando que eram civis desarmados.
“O massacre de Bucha é prova de que o ódio russo aos ucranianos ultrapassa tudo o que a Europa viu desde a Segunda Guerra Mundial”, escreveu na época o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em uma publicação na rede social X (antigo Twitter).
Rússia negou massacre, mas provas desmontaram versão oficial
O governo russo rejeitou as acusações, alegando que nenhum morador foi alvo de violência durante o período em que a cidade esteve sob controle de suas forças. As autoridades russas chegaram a chamar as denúncias de “farsa encenada” e “provocação promovida por Kiev para manipular a mídia ocidental”, fazendo menção também ao episódio da maternidade em Mariupol.
Entretanto, essa versão foi enfraquecida por registros de satélite da empresa Maxar Technologies. Pouco tempo após os acontecimentos, as imagens revelaram corpos espalhados na rua Yablonska entre os dias 9 e 11 de março, antes mesmo da retirada russa. A disposição dos corpos coincidiu com os registros feitos por um morador local em vídeo gravado no dia 1º de abril, quando as tropas ucranianas chegaram à cidade.
Essas evidências, somadas a outras que surgiram nos anos seguintes, reforçaram as denúncias contra o governo russo e evidenciaram o massacre ocorrido em Bucha como um dos episódios mais brutais da guerra.