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Saúde
31/03/2025 07:00:00

Como o barulho se tornou um 'assassino silencioso' ligado a doenças graves como diabetes, problemas cardíacos e demência

Como o barulho se tornou um 'assassino silencioso' ligado a doenças graves como diabetes, problemas cardíacos e demência

Estamos cercados por um inimigo invisível, presente em cada esquina e cada momento do dia, que tem minado silenciosamente a saúde da população: o barulho. Muito além de causar incômodos ou danos à audição, o ruído constante vem sendo associado ao desenvolvimento de doenças sérias, como ataques cardíacos, diabetes tipo 2 e até mesmo demência.

Especialistas, como a professora Charlotte Clark, da Universidade St. George de Londres, alertam que se trata de uma crise de saúde pública, já que milhões de pessoas estão expostas diariamente a níveis perigosos de ruído, muitas vezes sem perceber os danos acumulativos. O som é percebido pelo ouvido, processado pelo cérebro e desencadeia respostas fisiológicas como aumento da frequência cardíaca e liberação de hormônios do estresse — reações que, quando persistentes, contribuem para o surgimento de diversas doenças.

Mesmo durante o sono, o corpo não “desliga” do som ambiente. Isso significa que o organismo continua reagindo a ruídos, afetando a qualidade do descanso e desencadeando problemas de saúde a longo prazo. Viver próximo a aeroportos, avenidas movimentadas ou áreas com festas constantes pode gerar estresse contínuo e comprometer o bem-estar físico e mental.

Em cidades como Barcelona, por exemplo, moradores como Coco relatam episódios de insônia, dores no peito e internações ligadas ao excesso de barulho, provenientes de trânsito, festas e latidos de cães durante a madrugada. Estima-se que só na capital catalã ocorram cerca de 300 ataques cardíacos e 30 mortes por ano diretamente relacionados ao ruído do tráfego, conforme aponta a pesquisadora Maria Foraster, que colaborou com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema.

Efeitos do barulho no organismo e riscos invisíveis à saúde

O ruído ativa regiões do cérebro como a amígdala, que gerencia emoções, disparando respostas de “luta ou fuga” que foram úteis na evolução para reagir a perigos imediatos. No entanto, esse estado de alerta contínuo, causado por sons modernos como buzinas, motores e gritaria, desgasta o organismo com o tempo, aumentando a pressão arterial, interferindo nos níveis de açúcar no sangue e elevando o risco de doenças crônicas.

Segundo estudos, o limite ideal para a saúde cardiovascular é de 53 decibéis durante o dia — patamar frequentemente ultrapassado em centros urbanos. À noite, o ideal é silêncio absoluto para permitir que o corpo recupere suas funções. Contudo, ambientes barulhentos não só impedem esse descanso como afetam o humor e a saúde mental, gerando angústia e sensação de impotência.

Soluções urbanas e desafios para um futuro mais silencioso

A resposta não é simples. Combater o barulho significa, muitas vezes, repensar os modos de vida nas cidades. Projetos como o das "superquadras" de Barcelona, que priorizam pedestres e reduzem o tráfego de veículos, mostraram que pequenas mudanças na estrutura urbana podem gerar impactos significativos, como a prevenção de cerca de 150 mortes prematuras por ano.

Porém, avanços como esses enfrentam resistência política e social. O caso de Dhaka, capital de Bangladesh, considerada a cidade mais barulhenta do mundo, ilustra tanto o desafio quanto a possibilidade de mudança. Iniciativas de cidadãos como o ativista Momina Raman Royal e campanhas governamentais para restringir o uso abusivo de buzinas estão começando a promover conscientização.

O barulho, embora invisível, é um fator físico com efeitos comparáveis à poluição do ar. Entendê-lo como um perigo real para a saúde é o primeiro passo para promover ambientes urbanos mais saudáveis. Em um mundo cada vez mais ruidoso, encontrar refúgios de silêncio não é apenas um alívio — é uma necessidade vital.



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