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Mundo
30/03/2025 20:00:00

Captagon: a droga sintética em expansão produzida em massa na Síria

Captagon: a droga sintética em expansão produzida em massa na Síria

Apelidado de "cocaína de pobre", o captagon é uma droga sintética que se tornou extremamente popular entre jovens do Oriente Médio e da África do Norte. Originalmente desenvolvida na Alemanha como medicamento para tratar transtornos de déficit de atenção, a substância foi proibida em diversos países em 1986. Ainda assim, uma versão ilícita ressurgiu nos anos 2000, sendo amplamente produzida e comercializada em países como Síria e Líbano.

O que é o captagon e quais seus efeitos?

O captagon é uma combinação de fenetilina, uma anfetamina sintética, com cafeína e outros estimulantes. Uma vez metabolizada, a fenetilina se transforma em duas substâncias ativas: anfetamina e teofilina, ambas com forte ação estimulante no sistema nervoso. Os efeitos da droga incluem sensação de euforia, aumento da atenção, resistência ao sono e ao cansaço, além de maior desempenho físico e mental, o que atrai tanto jovens em festas quanto combatentes em zonas de conflito.

Apesar desses efeitos, o uso frequente pode levar à dependência, danos cognitivos e problemas cardiovasculares. Outro risco crescente é a variação na composição das pílulas fabricadas clandestinamente, que podem conter substâncias tóxicas e doses excessivas de estimulantes.

Síria se torna epicentro da produção de captagon

Durante a última década, a Síria passou a ser reconhecida como o maior produtor mundial da droga. De acordo com o governo britânico, cerca de 80% do captagon consumido globalmente tem origem síria. O país, afetado por longos anos de guerra civil e sanções econômicas, viu no tráfico da droga uma fonte paralela de renda, o que levou analistas a classificarem a Síria como um "narcoestado do Oriente Médio".

Reportagens internacionais, como da BBC, revelam como setores da indústria farmacêutica síria estariam envolvidos nos diversos estágios da produção e distribuição do captagon. Embora o governo de Bashar al-Assad negue qualquer envolvimento direto, estimativas indicam que apenas em 2021 o comércio da droga movimentou cerca de 5,7 bilhões de dólares no país.

Rotas de tráfico e exportação regional

A droga é majoritariamente exportada para os países do Golfo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Jordânia, além do Iraque. Em muitas apreensões, o captagon é encontrado escondido em carregamentos de produtos comuns, como grãos e frutas. A Jordânia, que faz fronteira com a Síria, tem adotado medidas rigorosas, incluindo a política de "atirar para matar" contra traficantes, para tentar conter a entrada da droga.

Em 2022, as autoridades sauditas apreenderam mais de 46 milhões de comprimidos de captagon escondidos em um carregamento de farinha, reforçando o alerta para o tamanho do tráfico. Estima-se que, nos últimos dois anos, a Jordânia tenha confiscado mais de 65 milhões de comprimidos.

Expansão e preocupação na Europa

O uso do captagon começa a chamar atenção também fora do Oriente Médio. Um relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) indica que a União Europeia pode se transformar em um novo eixo de tráfico da substância. Entre 2018 e 2023, foram apreendidos cerca de 127 milhões de comprimidos em países da UE. A maior operação foi registrada em 2020, no porto de Salerno, na Itália, onde 84 milhões de comprimidos foram confiscados.

Além do tráfico, a produção também já ocorre dentro do bloco europeu, especialmente em laboratórios clandestinos na Holanda, utilizando pó de anfetamina como base. O OEDT reforça a necessidade de medidas coordenadas entre os países da União Europeia para frear tanto a produção quanto a distribuição da droga em seu território.

O crescimento do captagon como droga de uso recreativo e como item valioso do mercado ilícito internacional levanta alertas sobre saúde pública, segurança regional e estabilidade econômica, especialmente em áreas onde o tráfico tem sido usado como meio de sobrevivência e financiamento de conflitos.



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