O número de mortos em Mianmar após um devastador terremoto de magnitude 7,7 subiu para 1.644, segundo dados divulgados neste sábado (29) pela junta militar, tornando este o desastre natural mais letal a atingir o país em décadas. Diante da gravidade da situação, os governantes militares autorizaram a entrada de centenas de equipes internacionais de resgate, numa medida rara, dada a tradicional resistência à presença estrangeira no território.
O tremor ocorreu na sexta-feira, abalando uma vasta região do Sudeste Asiático e afetando duramente a infraestrutura de Mianmar, já fragilizada pela guerra civil em curso desde o golpe militar de 2021. O terremoto destruiu estradas, pontes e aeroportos, paralisando serviços essenciais e dificultando o socorro imediato às vítimas. O impacto foi sentido também na Tailândia, onde nove pessoas morreram após o colapso de um edifício em Bangcoc.
Na cidade de Mandalay, uma das mais atingidas, sobreviventes passaram a sexta-feira escavando os escombros com as próprias mãos na esperança de salvar parentes e vizinhos. A ausência de equipamentos pesados e da atuação das autoridades agravou o drama de milhares de pessoas. Em Bangcoc, as buscas continuam nos escombros de uma torre de 33 andares, onde ainda há 47 pessoas desaparecidas, incluindo trabalhadores de Mianmar.
O Serviço Geológico dos Estados Unidos prevê que o número de mortos possa ultrapassar 10 mil e que os prejuízos econômicos superem o total da produção anual do país. No sábado, o líder da junta, general Min Aung Hlaing, viajou a Mandalay e determinou que os esforços de busca e socorro fossem intensificados. “O presidente do Conselho de Administração do Estado instruiu as autoridades a atenderem a quaisquer necessidades urgentes”, informou um comunicado oficial.
Infraestrutura colapsada e ajuda internacional chega ao país
De acordo com uma avaliação preliminar do governo de unidade nacional — ligado à oposição —, ao menos 2.900 construções, 30 rodovias e sete pontes foram destruídas. Os aeroportos internacionais de Naypyitaw e Mandalay estão temporariamente fechados devido aos danos. A torre de controle do aeroporto de Naypyitaw desabou, tornando-o inoperante, segundo informações repassadas à imprensa.
Enquanto a junta militar não se pronunciou diretamente à imprensa internacional, ajuda humanitária começou a chegar ao país. Uma equipe de resgate chinesa desembarcou em Yangon e deve seguir por terra até as áreas atingidas. A Índia também enviou suprimentos em um avião militar e anunciou o envio de navios com 40 toneladas de ajuda. Rússia, Malásia e Cingapura despacharam aeronaves com pessoal e mantimentos.
A Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) reconheceu a urgência da crise e afirmou estar pronta para apoiar os esforços de resgate. A Coreia do Sul destinou inicialmente US$ 2 milhões em ajuda via organizações internacionais. Apesar das sanções impostas, os Estados Unidos também declararam que forneceriam algum tipo de assistência. A China, por sua vez, anunciou uma ajuda de US$ 13,77 milhões, incluindo tendas, cobertores e kits médicos, após uma conversa entre o presidente Xi Jinping e Min Aung Hlaing.
Desespero nas áreas atingidas
O terremoto abalou diferentes regiões de Mianmar, da planície central até áreas montanhosas do estado de Shan, onde o controle do governo é parcial. Moradores relataram o colapso total de bairros e a ausência completa de socorro organizado. Htet Min Oo, de 25 anos, contou que foi retirado dos escombros por vizinhos, mas não conseguiu resgatar sua avó e dois tios. "Depois de tanto tempo, acho que não há mais esperança", lamentou.
Outro morador de Mandalay, que pediu anonimato por motivos de segurança, relatou a dificuldade das buscas. “Muitas pessoas estão presas, mas não há ajuda porque faltam mão de obra, equipamentos e veículos”, afirmou.
A tragédia expõe a fragilidade da infraestrutura de Mianmar em meio ao conflito interno e destaca a urgência de uma resposta coordenada para mitigar os efeitos do desastre e salvar vidas em meio a uma das piores crises humanitárias recentes no país.