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Meio Ambiente
28/03/2025 20:00:00

Como as mudanças climáticas impulsionam incêndios no Brasil

Como as mudanças climáticas impulsionam incêndios no Brasil

O Brasil enfrenta em 2024 uma das piores crises ambientais dos últimos anos, com o maior número de incêndios florestais registrados em mais de uma década. As queimadas se espalham por diversos biomas do país, como Amazônia, Pantanal e Cerrado, em meio à maior seca da história brasileira, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). A situação tem se agravado com o aumento das temperaturas, baixa umidade e ventos fortes, criando condições extremamente favoráveis à propagação do fogo.

Somente no estado de São Paulo, mais de 59 mil hectares de plantações de cana-de-açúcar foram consumidos pelas chamas. A Polícia Federal apura possíveis incêndios criminosos em regiões onde não chove há semanas. Em outros estados, como Mato Grosso, Pará, Amazonas e Mato Grosso do Sul, os focos de incêndio também aumentaram consideravelmente, com a Amazônia e o Pantanal sendo os biomas mais impactados.

Relatórios apontam agravamento causado pelas mudanças climáticas

Um estudo do World Weather Attribution (WWA) aponta que o mês de junho deste ano foi o mais quente, seco e ventoso desde 1979. A organização também divulgou que os incêndios no Pantanal se intensificaram em 40% devido às mudanças climáticas. Já a ONG MapBiomas revelou que tanto a Amazônia quanto o Pantanal estão sofrendo com a perda progressiva de superfície de água. Em 2023, o Pantanal registrou uma redução de 61% em sua área alagada em relação à média histórica, enquanto o rio Negro, na Amazônia, atingiu o nível mais baixo desde o início dos registros há 100 anos.

Florestas cada vez mais vulneráveis ao fogo

Carlos Peres, especialista em ecologia da Universidade East Anglia, no Reino Unido, afirmou que três quintos do Brasil estão ficando mais secos, o que torna a vegetação mais suscetível às chamas. Ele lembra que, décadas atrás, florestas na Amazônia só queimavam mediante intervenção humana, mas a realidade atual é diferente: secas mais intensas e curtas estações chuvosas impedem a reposição de umidade nos solos, favorecendo os incêndios.

Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), destaca que o desmatamento tem contribuído mais do que o aquecimento global para o aumento das temperaturas na Amazônia. Segundo ela, parte da floresta que antes funcionava como sumidouro de carbono agora atua como fonte emissora de CO2. Essa mudança agrava ainda mais o colapso climático e enfraquece o papel da Amazônia e do Pantanal como reguladores do clima.

Impactos aceleram e ameaçam equilíbrio ambiental

A fumaça proveniente das queimadas tem encoberto diversas cidades brasileiras, como ocorreu recentemente em Ribeirão Preto, em São Paulo. Além disso, os incêndios ameaçam a segurança alimentar e hídrica, além de provocar perdas significativas de biodiversidade. Julia Tavares, ecóloga da Universidade de Uppsala, na Suécia, explica que embora os incêndios não surjam espontaneamente em florestas tropicais, ações humanas, como a prática de corte e queima para abertura de áreas agrícolas, são amplificadas pelas mudanças climáticas, criando um cenário propício à expansão do fogo.

Risco de colapso se aproxima

Estudos internacionais, como os do Programa Ambiental da ONU, preveem que os incêndios florestais devem aumentar em 30% até 2050. Para Peres, cada vez que uma floresta queima, aumenta-se a chance de novos e mais intensos incêndios. Ele alerta que após três queimadas sucessivas, uma floresta pode desaparecer completamente, com prejuízos irreversíveis para o clima e a biodiversidade.

Governo reage com criação de autoridade climática

Em resposta à crise, o governo federal anunciou a criação de uma Autoridade Climática, iniciativa prometida ainda durante a campanha presidencial de 2022. A nova estrutura deverá coordenar ações de combate ao aquecimento global e buscar formas mais eficazes de enfrentar os impactos ambientais que já afetam severamente o país.

A combinação entre degradação ambiental, mudanças climáticas e ação humana vem transformando o cenário natural do Brasil, que agora enfrenta o desafio de conter uma ameaça crescente que coloca em risco seu futuro ecológico e climático.



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