Em meio à guerra comercial, EUA suspendem contribuições à OMC, afirmam fontes

Os Estados Unidos suspenderam suas contribuições financeiras à Organização Mundial do Comércio (OMC), segundo revelaram três fontes ligadas ao setor comercial à agência Reuters. A medida ocorre em meio ao esforço do governo do ex-presidente Donald Trump para cortar gastos públicos e adotar uma postura mais protecionista, alinhada à sua política econômica “America First”.

O governo Trump já vinha se afastando de instituições internacionais que considerava contrárias aos interesses dos EUA. Além de anunciar a saída da Organização Mundial da Saúde (OMS), também reduziu recursos destinados a outras entidades multilaterais. A suspensão dos pagamentos à OMC reflete essa mesma lógica de revisão da participação norte-americana em organismos internacionais.

Revisão de contribuições está em andamento, dizem fontes

Durante uma reunião orçamentária da OMC realizada em 4 de março, um delegado dos Estados Unidos comunicou que os pagamentos referentes aos orçamentos de 2024 e 2025 estavam suspensos. A decisão aguarda uma revisão mais ampla das contribuições norte-americanas a instituições internacionais. Três fontes comerciais com conhecimento direto da reunião confirmaram o posicionamento dos EUA, sendo que a OMC já estaria elaborando um “Plano B” diante da possibilidade de um congelamento prolongado dos recursos.

Apesar disso, o governo norte-americano ainda não anunciou formalmente a suspensão. Um porta-voz do Departamento de Estado afirmou que Trump assinou uma ordem executiva determinando que o secretário de Estado, Marco Rubio, revise em até 180 dias todas as organizações internacionais das quais os EUA participam para avaliar se elas estão em desacordo com os interesses do país.

EUA acumulam milhões em atraso

Documentos obtidos pela Reuters revelam que, até o fim de 2024, os Estados Unidos acumulavam cerca de 22,7 milhões de francos suíços (equivalentes a US$ 25,7 milhões) em contribuições não pagas à OMC. O orçamento anual da entidade, com sede em Genebra, gira em torno de 205 milhões de francos suíços, dos quais os EUA são responsáveis por aproximadamente 11%, com base em sua participação no comércio global.

Segundo o porta-voz da OMC, Ismaila Dieng, os pagamentos americanos estão retidos por conta de uma suspensão geral dos repasses a agências internacionais. Ele afirmou que atrasos como esse impactam a capacidade operacional da organização, mas garantiu que o Secretariado está adotando medidas para operar com prudência diante das limitações financeiras.

Medidas punitivas e perda de influência

De acordo com as regras da OMC, países que atrasam pagamentos por mais de um ano passam a ser alvo de medidas administrativas que se intensificam com o tempo. Atualmente, os EUA se enquadram na “categoria 1” de inadimplência, o que os impede de presidir comitês e receber documentos formais da OMC. Além dos Estados Unidos, outros cinco países — Bolívia, República Democrática do Congo, Djibuti, Gabão e Gâmbia — também estão nessa situação.

Mesmo com o atraso e a suspensão temporária, analistas acreditam que os Estados Unidos eventualmente quitarão os valores devidos. William Reinsch, ex-funcionário do Departamento de Comércio e atualmente no Center for Strategic and International Studies, destacou que a nomeação de um embaixador norte-americano para a OMC sinaliza interesse em manter algum nível de engajamento com a organização.

No total, o documento restrito da OMC aponta que 38,4 milhões de francos suíços em contribuições seguem pendentes, somando débitos de 2024 e anos anteriores entre vários países membros.