Centenas de palestinos saíram às ruas da Faixa de Gaza nesta semana para exigir o fim da guerra entre o Hamas e Israel e pedir que o grupo islâmico deixe o poder. As manifestações aconteceram em Beit Lahia, no norte do território, e são consideradas as maiores já registradas contra o Hamas desde o início do conflito com Israel, em outubro de 2023.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram jovens gritando frases como “fora, fora, Hamas fora”. Os protestos ganharam força após a retomada dos ataques israelenses em 18 de março, que encerraram um cessar-fogo de quase dois meses. Desde então, centenas de palestinos morreram e milhares foram deslocados.
População clama por fim da guerra e renúncia do Hamas
Em meio ao sofrimento causado por bombardeios, fome, falta d'água e de condições mínimas de sobrevivência, muitos manifestantes afirmaram que não suportam mais viver sob essas condições. Fatima Riad El Amrani, residente de Gaza, disse à BBC que estão sem conseguir dormir, comer ou sequer encontrar água limpa. “É uma vida de humilhação. Estamos cansados em todos os sentidos da palavra”, desabafou.
Outro morador, que não quis se identificar, declarou: “O Hamas deve abrir mão do controle de Gaza. Já tivemos o suficiente de violência e destruição. O mundo inteiro parece estar contra nós”. Um terceiro, também anônimo, afirmou que perdeu o filho durante os ataques e se manifestava por desespero diante da fome, da pobreza e da morte.
Protestos são espontâneos e organizados por jovens independentes
Segundo Ammar Dweik, diretor da Comissão Independente de Direitos Humanos na Palestina, os protestos parecem ser espontâneos e pacíficos, surgidos do desespero. Ele afirmou que a população acredita que, se o Hamas deixar o poder, isso pode aliviar o sofrimento humanitário. O ativista Abdulhamid Abdel-Atti explicou que a maioria dos manifestantes é formada por jovens independentes, sem vínculos com facções políticas.
Apesar disso, a BBC ouviu pessoas que vivem fora de Gaza e afirmaram ter participado da organização dos atos. Os protestos começaram com moradores dizendo estar fartos da guerra e do governo do Hamas.
Divisão política e bloqueio agravam crise em Gaza
Desde 2007, o Hamas governa a Faixa de Gaza após expulsar o grupo rival Fatah, que comanda a Cisjordânia por meio da Autoridade Palestina. Essa divisão política aprofundou o isolamento do território, especialmente após o Hamas se recusar a reconhecer Israel ou renunciar à violência, o que levou Israel e seus aliados a imporem um severo bloqueio à região.
As tentativas de reconciliação entre Hamas e Fatah fracassaram ao longo dos anos. Atualmente, com a intensificação da guerra e o agravamento das condições de vida, as críticas ao Hamas vêm aumentando, tanto nas ruas quanto nas redes sociais, apesar do temor de represálias.
Futuro político incerto
Com a insatisfação popular em alta, líderes do Fatah, como Munther al-Hayek, pediram publicamente que o Hamas escute a população e renuncie. Ele afirmou que a permanência do grupo representa uma ameaça à causa palestina. Apesar da pressão, o Hamas não se pronunciou oficialmente, mas um de seus membros, Bassem Naim, afirmou nas redes que todos têm o direito de se manifestar, embora tenha criticado o uso da crise humanitária para agendas políticas.
Diversos ativistas acreditam que os protestos devem continuar, refletindo o cansaço extremo da população de Gaza diante da guerra e da falta de perspectivas.