Pedido da Rússia por fim de sanções leva UE a negociações com dilemas complexos
A Rússia solicitou aos Estados Unidos o levantamento das sanções que afetam o setor agroalimentar como condição para reativar a Iniciativa do Mar Negro, o que forçou a União Europeia a participar das negociações, enfrentando decisões delicadas.
Entre as exigências está a reconexão do Rosselkhozbank ao sistema SWIFT, ferramenta essencial para transferências bancárias internacionais sob jurisdição europeia. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, que vinha afirmando que os europeus só seriam incluídos nas conversas de paz no momento oportuno, pode ter que antecipar esse convite, após uma nova rodada de negociações na Arábia Saudita resultar em um cessar-fogo parcial em instalações energéticas e promessas de navegação segura no Mar Negro.
Rússia detalha condições para retomar acordo marítimo
O Kremlin divulgou uma lista de exigências, entre elas o fim de restrições que dificultam exportações de alimentos e fertilizantes, além da exigência central: permitir que o Rosselkhozbank e outros bancos ligados ao comércio agrícola voltem a operar no SWIFT. Esse sistema, com sede na Bélgica, é controlado por leis europeias e conecta mais de 11 mil instituições financeiras em mais de 200 países.
Desde 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, vários bancos russos foram expulsos do SWIFT como forma de limitar o financiamento da guerra. O Rosselkhozbank, banco estatal que financia o setor agrícola russo, foi incluído nessa lista em junho daquele ano. A exclusão dificultou pagamentos internacionais, contribuindo para o fim do acordo marítimo apoiado pela ONU e Turquia.
Casa Branca evita mencionar exigências russas
Embora a Casa Branca tenha declarado que ajudará Moscovo a restabelecer acesso aos mercados de exportação agrícola, melhorar seguros marítimos e facilitar pagamentos, não mencionou diretamente o SWIFT. Trump afirmou que sua equipe está analisando todas as condições apresentadas por Putin, mas evitou firmar compromissos.
Europa sob pressão diante do dilema
A exigência russa coloca a União Europeia em uma encruzilhada. Rejeitar o pedido pode desgastar relações com Trump, que busca um cessar-fogo como trunfo diplomático. Por outro lado, aceitar poderia sinalizar fraqueza diante de Moscou, incentivando novas exigências. Além disso, contrariaria a posição firme do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, que insiste na manutenção das sanções enquanto durar o conflito.
Durante visita a Kiev, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que as penalidades só serão revertidas com avanços concretos rumo à paz, destacando o impacto severo das sanções na economia russa. Ainda assim, diplomatas europeus mantêm resistência a qualquer alívio, citando os contínuos ataques da Rússia como sinal de má-fé.
UE enfrenta possível bloqueio interno
As sanções europeias precisam ser renovadas por unanimidade a cada seis meses, o que abre espaço para dissidências. A Hungria, que já ameaçou barrar a renovação em ocasiões anteriores, pode agir novamente quando o próximo pacote for discutido em 31 de julho. Segundo especialistas, o apoio de Rubio foi decisivo para manter as últimas sanções em vigor, e sua ausência pode comprometer a coesão europeia.
Apesar de a decisão sobre o SWIFT depender da UE, os EUA poderiam suavizar restrições indicando que transações com o Rosselkhozbank não acarretarão penalizações legais, o que criaria um caminho alternativo para atender parcialmente o pedido russo.
Especialistas consideram que o apelo russo é uma manobra para testar simultaneamente a disposição dos EUA e a firmeza da União Europeia. Para o consultor Jan Dunin-Wasowicz, essa solicitação pode estar sendo usada como ferramenta de pressão indireta sobre Bruxelas, forçando o bloco a considerar flexibilizações que, por ora, continuam fora da mesa.