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Economia
26/03/2025 18:00:00

Por que a comida ficou mais cara no Brasil

Por que a comida ficou mais cara no Brasil

A alta no preço dos alimentos no Brasil tem preocupado especialistas e afetado diretamente a mesa dos brasileiros. A inflação acumulada em 12 meses até fevereiro foi de 7% na categoria de alimentos e bebidas, segundo o IBGE, e os motivos para essa elevação envolvem uma série de fatores que se combinaram em um cenário descrito como "tempestade perfeita". De acordo com especialistas ouvidos pela DW, o encarecimento da comida no país resulta da valorização do dólar, das mudanças climáticas, da alta da demanda interna e de incertezas na condução fiscal do governo.

Alta do dólar pesa sobre o preço dos alimentos

Um dos principais fatores apontados pelos economistas é a valorização do dólar frente ao real, especialmente a partir do fim de 2023. O economista Samuel Pessoa lembra que os preços dos alimentos no mercado interno acompanham os valores internacionais, cotados em dólar. No ano passado, a moeda americana subiu cerca de 24%, saindo de R$ 4,91 para R$ 6,10, o que impactou diretamente os custos de produtos importados e exportáveis, como óleo de soja (alta de 23,3%), azeite (14%) e carnes.

A disparada cambial se deu como reação ao pacote fiscal proposto pelo governo federal, que visava economizar R$ 70 bilhões até 2026, mas não convenceu o mercado quanto à estabilidade da dívida pública. Esse cenário pressionou o câmbio e ajudou a transferir os aumentos para os preços nos supermercados.

Mudanças climáticas e fenômenos extremos influenciam as safras

As alterações no clima, especialmente os efeitos do El Niño, também exerceram forte influência sobre a oferta de alimentos no Brasil. O fenômeno climático aquece o Oceano Pacífico e modifica os regimes de chuva, causando estiagens no Norte e Nordeste e excesso de chuvas no Sul. A consultoria LCA estima que, dos 8,22% de inflação na alimentação em domicílio em 2024, 2,25 pontos percentuais se devem ao El Niño.

Os impactos foram diversos: secas prolongadas prejudicaram a produção de café, com perdas em algumas plantações que não chegaram a 10% do esperado; frutas como abacate, limão e tangerina registraram aumentos expressivos, entre 25% e 59%; legumes como a abobrinha subiram quase 29%. A combinação de estiagens, chuvas intensas e calor extremo reduziu a produtividade das lavouras e aumentou o desperdício.

Alta na demanda contribuiu para o desequilíbrio

A recuperação do mercado de trabalho, com desemprego em 6,2% e crescimento da renda média, também pressionou a demanda por alimentos. Com mais dinheiro disponível, as famílias passaram a consumir mais, o que elevou ainda mais os preços. Essa procura crescente se somou a uma oferta reduzida por problemas climáticos e à valorização cambial, formando um quadro que favoreceu a inflação.

Efeitos na rotina dos brasileiros e ações do governo

Frente aos preços em alta, famílias de baixa renda têm recorrido a alternativas mais baratas de proteína, como carcaças de frango e suã de porco. Já os consumidores das faixas de renda mais altas mudaram hábitos, trocando marcas de produtos como sucos e iogurtes. Os alimentos mais afetados foram o café (alta de 66% em um ano), o ovo (10,5%) e a carne bovina (22%).

Como resposta, o governo federal decidiu reduzir impostos de produtos como carnes, milho e açúcar, além de apostar na expectativa de uma boa safra em 2025. Segundo projeções do IBGE, a produção agrícola pode crescer quase 10%, especialmente nas lavouras de soja e arroz.

Impacto estrutural das mudanças climáticas

Para especialistas como André Braz, da FGV, os eventos recentes não são isolados. A frequência com que fenômenos como El Niño e La Niña vêm ocorrendo reflete os efeitos do aquecimento global, o que tende a manter a produção agrícola sob risco constante. Além disso, o excesso de chuvas e o calor afetam a frutificação e provocam perdas nas colheitas, como explica a pesquisadora Franciele Cardoso, da Unisinos. Isso compromete a oferta e acentua o desequilíbrio entre produção e consumo.

O aumento do preço dos alimentos no Brasil é, portanto, resultado de um conjunto complexo de fatores econômicos, climáticos e estruturais. E, enquanto não houver estabilidade fiscal, medidas mais eficazes para conter a valorização do dólar e ações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, a tendência é que o consumidor continue sentindo o peso da inflação no bolso.



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