O avanço expressivo da produção agropecuária brasileira nas últimas décadas, responsável por cerca de metade das exportações nacionais, está fortemente ligado à adoção de novas tecnologias e à abertura do setor a investimentos e métodos estrangeiros. A análise é do economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Eustáquio Vieira, durante participação no CB Fórum, nesta terça-feira (25), evento que discutiu o cenário dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro.
Tecnologia como motor da produção agropecuária
Vieira destacou que o crescimento da produção agrícola no país não está vinculado apenas à disponibilidade de terra, mas, sobretudo, ao uso de ciência e inovação tecnológica. “O que faz a produção crescer não é a terra em si, mas a tecnologia”, explicou. Segundo ele, a aposta em pesquisa e desenvolvimento foi o diferencial que permitiu ao Brasil multiplicar por dez sua produção de alimentos desde os anos 1970.
Exportações crescem sem comprometer segurança alimentar
Contrariando preocupações frequentes, o especialista afirmou que o aumento da exportação de grãos não afetou negativamente o consumo interno. Pelo contrário, enquanto as vendas externas de soja saltaram de 3,7 milhões de toneladas em 1990 para 97,4 milhões em 2022, o consumo per capita da população brasileira também cresceu, passando de 94,6 kg por habitante para 252,4 kg no mesmo período. “Quanto mais exportamos, maior é o consumo interno. Isso vale para soja, milho, trigo, ou seja, o aumento das exportações tem reforçado a segurança alimentar no país”, destacou.
Participação estrangeira pode fortalecer o setor
Vieira também defendeu uma reavaliação das restrições à compra de terras por estrangeiros, desde que haja preservação de áreas estratégicas como fronteiras e o bioma amazônico. Para o pesquisador, o maior valor está nos insumos e tecnologias que os investidores estrangeiros podem trazer, mais do que na posse da terra em si. Ele também ressaltou que a escassez de mão de obra qualificada no campo poderia ser atenuada com o incentivo à imigração. “A agricultura brasileira foi moldada por estrangeiros. Toda a transformação do setor veio de imigrantes que impulsionaram nossa produção”, afirmou.
Sustentabilidade como diferencial global
Ao final de sua apresentação, Vieira comparou a performance ambiental do Brasil com a de países desenvolvidos como França, Alemanha e Estados Unidos. Segundo ele, a produção agropecuária brasileira tem se mostrado mais eficiente em termos de sustentabilidade, conseguindo expandir a produção por unidade de emissão de gases em níveis superiores aos de outras nações. “Em qualquer indicador de comparação, o Brasil tem liderado. Nossa agricultura tem crescido com responsabilidade ambiental”, concluiu.