Após mais de uma década de guerra, o Iêmen enfrenta uma das piores crises humanitárias do mundo, com mais de 540 mil crianças em estado de desnutrição grave, segundo alerta do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O representante da agência no país, Peter Hawkins, afirmou que o conflito prolongado destruiu a economia, o sistema de saúde e grande parte da infraestrutura, mergulhando o país em uma crise sem precedentes.
Inflação extrema e fome atingem a população
A situação alimentar se agravou ainda mais com a disparada dos preços. Nos últimos dez anos, o custo dos alimentos subiu mais de 300%, dificultando o acesso à comida básica para grande parte da população. Hoje, metade dos iemenitas depende de ajuda humanitária para sobreviver. Em algumas regiões, como o oeste do país, a taxa de desnutrição aguda em crianças chega a 33%.
Segundo Hawkins, uma em cada duas crianças com menos de cinco anos está desnutrida, um número alarmante e praticamente sem similar em outros países. Ele relatou ainda que portos e estradas essenciais para o abastecimento de comida e medicamentos foram danificados ou bloqueados por bombardeios, agravando ainda mais o cenário de fome.
Conflito prolongado e risco de nova escalada militar
A guerra teve início com a tomada do poder pelos rebeldes houthis em 2015, que depuseram o então presidente Abd Rabbu Mansour Hadi. Desde então, o país vive uma guerra entre os houthis e as forças do governo, com apoio de coalizões internacionais. Embora uma trégua tenha sido mediada pela ONU em abril de 2022, a violência continua e o risco de novos confrontos é alto.
Hans Grundberg, enviado especial da ONU para o Iêmen, alertou recentemente o Conselho de Segurança sobre o risco iminente de rompimento do cessar-fogo. Os Estados Unidos, por sua vez, têm realizado ataques a posições houthis em retaliação a investidas contra navios comerciais no Mar Vermelho, aumentando a tensão na região.
Alemanha destina €19,8 milhões ao Unicef para combate à desnutrição
Como medida emergencial, o governo da Alemanha, através do Banco de Desenvolvimento KfW, destinou €19,8 milhões ao Unicef para reforçar ações de combate à desnutrição aguda e crônica no Iêmen. O programa atenderá crianças e mulheres em 18 distritos, incluindo Aden e Hodeida, com distribuição de suplementos nutricionais, educação alimentar e triagem comunitária.
Estima-se que 1,4 milhão de mulheres grávidas ou amamentando estejam desnutridas, e esse financiamento será fundamental para apoiar esse grupo vulnerável.
Trabalhadores humanitários continuam detidos
No Dia Internacional de Solidariedade com Funcionários Detidos ou Desaparecidos, a ONU destacou a situação crítica de 23 trabalhadores da organização ainda detidos por rebeldes houthis no Iêmen, alguns em cativeiro há mais de três anos. Entre os casos, está a morte de um colaborador do Programa Mundial de Alimentos.
O presidente da Assembleia Geral da ONU, Philémon Yang, exigiu a libertação imediata e incondicional de todos os funcionários da organização e de outros trabalhadores humanitários detidos no país.