Em relatório apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU nesta terça-feira, 19 de março, a Missão de Apuração dos Fatos sobre a Venezuela denunciou que o governo do país continua promovendo ações que configuram crimes contra a humanidade. A comissão apontou perseguições sistemáticas contra opositores políticos, defensores de direitos humanos e jornalistas, com base em motivações políticas.
Segundo o documento, somente nos primeiros 15 dias deste ano, foram registradas 84 prisões, número que dobrou em relação às 42 detenções realizadas entre setembro e dezembro do ano passado. Os peritos alertam ainda que alguns desses casos podem estar relacionados a desaparecimentos forçados.
A presidente da comissão, Marta Valiñas, afirmou que o governo de Nicolás Maduro segue “orquestrando uma repressão severa contra pessoas que encara como opositoras ou simplesmente porque discordam” do regime. As ações incluem detenções arbitrárias, privação severa da liberdade e outras práticas consideradas ilegais pela legislação internacional.
Estrangeiros detidos seguem incomunicáveis
Outro ponto destacado no relatório é a situação de ao menos 150 estrangeiros presos sob a acusação de conspirar contra o governo. De acordo com os peritos, essas pessoas estão desaparecidas para seus familiares e autoridades consulares de seus países de origem. O governo venezuelano tem ignorado os apelos diplomáticos e mantém os detentos sem qualquer forma de comunicação externa, violando normas internacionais.
Tiros partiram de quartel militar em Aragua, diz comissão
A Missão também abordou os episódios de violência registrados após as eleições de julho de 2024 no estado de Aragua. Sete pessoas morreram durante manifestações e, segundo a investigação, os tiros que mataram os manifestantes partiram de dentro de um quartel militar, sem aviso prévio.
Três generais e dois oficiais superiores estariam presentes no momento dos disparos, o que reforça a responsabilidade direta do Estado. A perita Patricia Tappatá destacou que o governo tem o dever de investigar o ocorrido e levar os responsáveis à justiça.
O relatório reforça as denúncias de repressão sistemática, violação de direitos humanos e uso da força por parte do governo da Venezuela contra civis e opositores, aprofundando a crise humanitária e institucional no país.