Soldados famintos vendem equipamentos militares para conseguir comida na Coreia do Norte

Diante da crescente escassez de alimentos, militares norte-coreanos têm recorrido à venda clandestina de itens fornecidos pelo exército para conseguir se alimentar. A grave situação foi revelada por meio de relatos divulgados pela Radio Free Asia (RFA), que apontam um aumento nas negociações ilegais de materiais como cantis, barracas, marmitas e sacos impermeáveis para arroz — equipamentos com pouca utilização no cotidiano militar, mas de grande valor no mercado paralelo.

As autoridades norte-coreanas, ao tomarem conhecimento da prática, iniciaram inspeções rigorosas nas unidades militares do país. A estratégia adotada foi surpreendente: soldados foram convocados repentinamente para exercícios ao ar livre, ocasião em que seus equipamentos foram checados minuciosamente. A ação resultou em diversos flagrantes de militares que não portavam os materiais obrigatórios, o que levou à aplicação de punições severas.

Cantis e sacos impermeáveis lideram as vendas no mercado clandestino

De acordo com os relatos, dois dos itens mais negociados ilegalmente são os cantis e as bolsas impermeáveis para transporte de arroz. Como não são amplamente utilizados nas rotinas diárias das tropas, muitos soldados acreditam que sua ausência passará despercebida. No entanto, esse engano tem custado caro para os envolvidos, que enfrentam sanções rigorosas quando descobertos.

Um morador da região onde as inspeções foram realizadas confirmou a delicada situação dos soldados, principalmente os mais jovens, recém-ingressos no serviço militar. Segundo ele, a prática de vender equipamentos continuará ocorrendo enquanto a fome persistir nas fileiras do exército. “Será difícil erradicar completamente esse fenômeno, a menos que problemas crônicos como a fome sejam resolvidos”, relatou à RFA, sob anonimato por motivos de segurança.

A crise alimentar que afeta os militares reflete o colapso mais amplo do abastecimento na Coreia do Norte, e levanta preocupações sobre as condições precárias enfrentadas até mesmo pelas forças armadas do país, tradicionalmente vistas como pilar central do regime.