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22/03/2025 16:00:00

Pesquisa aponta situação preocupante dos rios na Mata Atlântica

Pesquisa aponta situação preocupante dos rios na Mata Atlântica

Um levantamento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica durante o ano de 2024 revelou um panorama preocupante da qualidade dos rios que percorrem os estados abrangidos pelo bioma Mata Atlântica. O estudo avaliou 112 rios em 14 estados e observou um aumento de pontos com águas classificadas como ruins, além de estagnação em vários locais. Melhorias pontuais foram registradas apenas em áreas com projetos específicos, indicando que a maior parte das bacias hídricas continua em estado crítico ou regular.

A pesquisa contou com a colaboração de voluntários e abrangeu 145 pontos de coleta em 67 municípios do Nordeste ao Sul do país, ampliando o escopo em comparação com o estudo anterior. Dos locais analisados, 7,6% foram classificados com qualidade boa, enquanto 13,8% receberam avaliação ruim e 3,4% foram considerados péssimos. A maioria dos pontos (75,2%) apresentou qualidade regular. Nenhum foi avaliado como ótimo, o que reforça a fragilidade dos recursos hídricos na região.

Saneamento básico ainda é o principal desafio

O Índice de Qualidade da Água (IQA), baseado na resolução 357/05 do Conama, é utilizado para medir a condição das águas, levando em conta 16 parâmetros. Rios com qualidade ótima ou boa são considerados aptos para o abastecimento humano e a manutenção da vida aquática. Já aqueles com qualidade regular, ruim ou péssima apresentam níveis de poluição que comprometem seu uso, prejudicando tanto a população quanto a biodiversidade.

Um exemplo crítico é o Rio Pinheiros, em São Paulo, que há décadas sofre com ocupação desordenada e despejo de esgoto. O coordenador do programa Observando os Rios, Gustavo Veronesi, afirma que os investimentos previstos pelo marco legal do saneamento, criado em 2020, ainda não se concretizaram em escala necessária. Para ele, as soluções tradicionais não são suficientes diante da complexidade dos desafios, e novas abordagens devem ser consideradas, especialmente para comunidades isoladas onde o custo da infraestrutura convencional inviabiliza sua implantação.

Iniciativas locais mostram caminhos viáveis

Uma das experiências bem-sucedidas ocorre no bairro do Butantã, na zona oeste de São Paulo, onde a comunidade do Morro do Querosene implementou, com apoio da SOS Mata Atlântica, um sistema alternativo de saneamento no Parque da Fonte Peabiru. Um Tanque de Evapotranspiração (Tevap) trata o esgoto de aproximadamente 30 moradores, impedindo que os resíduos contaminem o Córrego da Fonte. O projeto, baseado em princípios da permacultura e Soluções Baseadas na Natureza, conseguiu restaurar a qualidade da água, antes comprometida, e ainda gerou benefícios ambientais, como o plantio de bananeiras e girassóis.

A moradora Cecília Pellegrini, que participou da iniciativa, afirma que a transformação foi imediata: “Desde dezembro, quando o sistema foi concluído, a água está limpa. É um modelo que resolve o problema no local, sem precisar transportar o esgoto para longe, evitando perdas e contaminações no caminho”.

Casos pontuais demonstram potencial de recuperação

O relatório também registra melhorias em alguns rios, como o Córrego Trapicheiros, no Rio de Janeiro, e os rios Sergipe e do Sal, no estado de Sergipe, que tiveram elevação na qualidade da água. Em São Paulo, o Córrego São José passou da classificação ruim para regular. Por outro lado, o Rio Capibaribe, em Pernambuco, e o Capivari, em Florianópolis, sofreram agravamentos na qualidade devido a despejos irregulares.

A pesquisa alerta que a falta de fiscalização e o crescimento urbano desordenado são fatores determinantes para a deterioração da qualidade da água. Para a diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, o Brasil precisa integrar de forma mais eficaz as políticas públicas de água, clima, meio ambiente e saneamento. Ela destaca que a mobilização social é essencial para garantir avanços concretos: “O retrato da qualidade das águas mostra que só com o engajamento da sociedade e ações integradas será possível garantir um futuro sustentável.”

Empresas e poder público devem ser cobrados

Veronesi ressalta que a responsabilidade pelo saneamento é dos municípios, e é necessário pressionar tanto o poder público quanto empresas que influenciam diretamente na geração de resíduos e poluição. Para ele, o saneamento envolve quatro pilares: fornecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, descarte adequado de resíduos sólidos urbanos e gestão das águas pluviais. No quesito dos resíduos, destaca-se a importância da responsabilidade compartilhada entre empresas e administrações municipais.

Além disso, o uso de agrotóxicos e produtos químicos na região da Mata Atlântica, frequentemente ignorado, também contribui para a degradação dos rios. Embora receba atenção apenas em casos extremos, como mortandade de peixes, Veronesi afirma que o controle dessas substâncias deveria ser contínuo.

Proteção das nascentes e margens é medida essencial

Entre as medidas de longo prazo para reverter o quadro, Veronesi defende a proteção de nascentes e margens de rios, com manutenção de matas ciliares, criação de parques lineares e reflorestamento, inclusive em áreas urbanas. Para ele, é fundamental interromper o desmatamento e investir na recuperação ambiental para assegurar a saúde dos rios e o acesso à água limpa para as futuras gerações.



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