O ensino superior brasileiro passa por transformações significativas, marcadas pela expansão do ensino a distância (EaD) e pela retração dos cursos presenciais. Paralelamente, a evasão universitária continua elevada, e a redução do financiamento estudantil tem se tornado um dos principais entraves para a permanência de alunos no ensino superior. Essas são algumas das conclusões da 15ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp) nesta quarta-feira (12/3), sob a condução do diretor e economista Rodrigo Capelato, em um evento realizado por meio do Zoom.
O levantamento apresenta um panorama detalhado do avanço da EaD, do impacto da queda no financiamento estudantil e dos desafios para o acesso e permanência nas universidades. Desde 2013, as matrículas em cursos a distância aumentaram 326%, impulsionadas por custos mais baixos e pela flexibilidade oferecida. Em contrapartida, os cursos presenciais registraram queda de 29% no mesmo período.
Apesar desse crescimento, a expansão do EaD não tem sido suficiente para melhorar a inclusão educacional. O Brasil ainda está distante da meta de 33% dos jovens entre 18 e 24 anos no ensino superior, conforme estabelecido pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Em 2023, apenas 19,9% dessa faixa etária estava matriculada, revelando que o aumento das vagas não se traduz, necessariamente, em um maior número de formandos.
Outro desafio alarmante é a taxa de evasão. Mais da metade dos estudantes de cursos presenciais não conclui a graduação. No EaD, o índice é ainda mais preocupante: 63,7% dos alunos abandonam seus cursos antes da formatura. Especialistas apontam que os principais fatores para esse cenário são a ausência de apoio financeiro, a dificuldade de conciliar trabalho e estudo e a qualidade deficitária de algumas graduações a distância.
Financiamento estudantil em crise
Programas de financiamento que antes garantiam o acesso de milhares de estudantes ao ensino superior privado estão cada vez mais limitados. O número de contratos do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) despencou 88% na última década, passando de 732 mil novos contratos em 2014 para apenas 90 mil em 2023.
O Programa Universidade para Todos (Prouni), que chegou a oferecer 610 mil bolsas em 2017, atualmente disponibiliza 403,9 mil – uma redução de 34% desde seu auge.
Com a redução desses incentivos, muitos estudantes encontram dificuldades para arcar com as mensalidades, resultando em taxas elevadas de desistência e menor inclusão educacional.
Sustentabilidade e inovação no ensino superior
Uma novidade do Mapa do Ensino Superior 2025 é a inclusão de um capítulo especial sobre cursos relacionados ao agrossistema. Com as mudanças climáticas e a busca por soluções sustentáveis, áreas como agronegócio, energias renováveis, agrocomputação e biotecnologia têm ganhado espaço, registrando um crescimento de 26% nos últimos dez anos.
Apesar do avanço, esses cursos ainda representam uma parcela reduzida do total de matrículas. Um dos desafios para sua expansão é a falta de informação sobre as oportunidades de carreira e a percepção equivocada de que muitas dessas profissões não exigem diploma universitário.
Especialistas apontam que o fortalecimento desses cursos pode ser uma estratégia para equilibrar o mercado de trabalho e impulsionar o desenvolvimento sustentável do país.
Os desafios e o futuro da educação superior no Brasil
O levantamento do Semesp revela um paradoxo: o ensino superior brasileiro conta com mais vagas e maior acessibilidade, sobretudo com o avanço da EaD, mas as dificuldades financeiras e a evasão ainda impedem que muitos estudantes concluam seus cursos.
A tendência é que a educação a distância continue se expandindo nos próximos anos. No entanto, especialistas alertam para a necessidade de políticas que incentivem a permanência dos alunos e garantam a qualidade do ensino. Além disso, áreas estratégicas como o agrossistema podem ganhar relevância diante da crescente demanda por profissionais capacitados em inovação e sustentabilidade.