22/04/2025 19:54:05

Mundo
18/03/2025 02:00:00

Ártico sob ameaça: entre disputas geopolíticas e transformações climáticas

Ártico sob ameaça: entre disputas geopolíticas e transformações climáticas

Nos últimos anos, o Círculo Polar Ártico voltou ao centro das atenções globais, especialmente após Donald Trump demonstrar interesse em expandir a influência dos Estados Unidos sobre a região, incluindo a Groenlândia, atualmente sob administração da Dinamarca. Além disso, os efeitos das mudanças climáticas estão remodelando drasticamente essa área frágil, acelerando transformações políticas e geoestratégicas. A relação cooperativa entre as nações do Ártico tem sido abalada por tensões globais, enquanto a corrida por recursos naturais levanta questionamentos sobre o futuro da estabilidade na região.

Oito países possuem territórios dentro do Círculo Polar Ártico, mas apenas cinco se destacam pelo tamanho de suas costas: Canadá, Dinamarca (por meio da Groenlândia e Ilhas Faroe), Noruega, Rússia e Estados Unidos. Embora nenhum deles detenha posse exclusiva do Oceano Ártico, exercem direitos econômicos e territoriais conforme a legislação internacional, especialmente por meio das Zonas Econômicas Exclusivas (ZEEs), que garantem exploração de recursos naturais, como petróleo, gás e pesca.

Desde 1996, esses países integram o Conselho do Ártico, um fórum intergovernamental voltado à cooperação na região. No entanto, crises recentes, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, deterioraram as relações diplomáticas. Will Greaves, especialista em política internacional da Universidade de Victoria, no Canadá, observa que a crescente rivalidade entre grandes potências reverte décadas de cooperação estabelecidas após a Guerra Fria. Ele aponta que a postura externa de Trump, aliada ao negacionismo climático, tornou inviável qualquer consenso dentro do Conselho.

A disputa pelo controle dos recursos naturais também é um fator determinante na geopolítica do Ártico. Estimativas do Serviço Geológico dos EUA indicam que cerca de 22% das reservas mundiais de petróleo e gás ainda não exploradas estão localizadas na região. Embora Rússia e Noruega já tenham avançado na exploração desses recursos, o alto custo e as dificuldades operacionais dificultam um "boom" generalizado. Especialistas como Malte Humpert, do think tank The Arctic Institute, ressaltam que, apesar do potencial econômico, a extração de petróleo no Ártico ainda é extremamente cara.

A presença chinesa na região também preocupa os Estados Unidos, que veem as tentativas do país de adquirir direitos de mineração como uma ameaça geopolítica. Paralelamente, se o derretimento do gelo continuar no ritmo atual, novas rotas marítimas poderão ser abertas, beneficiando sobretudo Rússia e China ao encurtar o tempo de transporte de mercadorias.

As mudanças climáticas seguem alterando o cenário de forma profunda. A extensão do gelo marinho no inverno atingiu níveis historicamente baixos, e há previsões de verões sem gelo até 2050. Pesquisas indicam que o degelo do permafrost pode provocar colapsos na infraestrutura, afetar o abastecimento de água e ampliar riscos sanitários. Além disso, o aumento da temperatura no Ártico ocorre de três a quatro vezes mais rápido do que a média global, desencadeando impactos ecológicos e sociais ainda pouco compreendidos fora da região.

Enquanto a geopolítica ganha destaque, a real ameaça pode estar no aquecimento acelerado do planeta. A competição por influência e recursos obscurece um problema ainda maior: as consequências irreversíveis das mudanças climáticas no Ártico e seus impactos no equilíbrio global.



Enquete
Ex-Governador e atual Senador Renan Filho pretende voltar ao Governo de Alagoas, Você concorda?
Total de votos: 12
Google News