Mais de três anos após o início da guerra, a proposta de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia enfrenta impasses devido às condições impostas pelo Kremlin. O plano, elaborado pelos Estados Unidos e aprovado por Kiev, prevê uma trégua de 30 dias, mas Vladimir Putin apresentou uma série de exigências que podem inviabilizar o acordo.
Após uma reunião na Arábia Saudita entre representantes de Washington e Kiev, um assessor de Donald Trump, Steve Witkoff, viajou a Moscou para tentar garantir a adesão da Rússia ao cessar-fogo. No entanto, o presidente russo condicionou a aceitação da trégua a uma série de concessões, incluindo:
Putin também levantou questionamentos sobre o monitoramento da trégua ao longo da extensa fronteira entre os países e o envio de armas ocidentais para Kiev durante o período de cessação dos combates. Além disso, a Rússia exige a retirada das forças ucranianas da província russa de Kursk, onde as tropas russas cercam soldados ucranianos.
A guerra começou em 2022, mas as tensões entre os dois países remontam a 2014, quando Moscou anexou a Crimeia e apoiou separatistas em Donetsk e Luhansk. Agora, a Rússia exige que a Ucrânia reconheça formalmente a anexação de aproximadamente 20% de seu território, incluindo as regiões de Zaporíjia e Kherson, áreas que ainda são alvo de combates.
A posição ucraniana, no entanto, tem sido clara desde o início do conflito: Volodymyr Zelensky declarou repetidamente que não aceitará qualquer acordo de paz que envolva a perda de território. Apesar disso, Trump sugeriu que a concessão de parte dessas regiões à Rússia está sendo debatida nas negociações, incluindo o destino da usina nuclear de Zhaporizhzhia, a maior da Europa.
A adesão da Ucrânia à OTAN tem sido um dos principais pontos de atrito entre Kiev e Moscou. Desde a década de 1990, a aliança militar ocidental expandiu sua influência para países do antigo bloco soviético, o que a Rússia sempre considerou uma ameaça direta à sua segurança. Com o aumento das tensões, a Ucrânia intensificou sua cooperação com a aliança e incluiu o ingresso no bloco como um objetivo estratégico em sua Constituição desde 2018.
Moscou insiste que a entrada de Kiev na OTAN representa um ato de agressão e exige que qualquer acordo de cessar-fogo inclua a garantia formal de que a Ucrânia jamais integrará a organização.
Diante da incerteza sobre a posição dos Estados Unidos sob a presidência de Trump, países europeus começaram a discutir um plano de reforço militar independente. Em fevereiro, líderes das principais potências da Europa realizaram uma cúpula em Paris para definir estratégias de rearmamento e apoio à Ucrânia, reduzindo a dependência da aliança com os EUA.
Nesse contexto, o Reino Unido e outros países sugeriram o envio de tropas para monitorar a implementação do cessar-fogo, garantindo que ambas as partes cumpram os termos do acordo. A Rússia rejeita categoricamente essa proposta, argumentando que a presença de soldados estrangeiros próximos às suas fronteiras apenas agravaria as tensões.
Com as exigências russas consideradas inaceitáveis por Kiev e seus aliados, as negociações seguem sem consenso. A proposta de cessar-fogo, que poderia representar a primeira pausa significativa no conflito desde 2022, enfrenta o risco de fracassar diante das condições impostas pelo Kremlin.