A Rússia cometeu crimes contra a humanidade durante a guerra na Ucrânia, conduzindo uma campanha de desaparecimentos forçados e tortura, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (14/03) por uma comissão da Organização das Nações Unidas (ONU).
Os investigadores da Comissão Internacional Independente de Inquérito para a Ucrânia afirmaram que esses crimes foram parte de "um ataque sistemático e generalizado contra a população civil". O relatório, que deve ser apresentado oficialmente na próxima terça-feira, destaca que as autoridades russas cometeram crimes como tortura e desaparecimentos forçados em todas as regiões ucranianas sob controle russo.
Violações e crimes cometidos
O documento aponta que civis foram detidos em grande número e transferidos para centros de detenção na Rússia ou em áreas ocupadas. Durante esses períodos de aprisionamento, muitas vítimas desapareceram por meses ou anos, e algumas morreram em cativeiro.
Além disso, prisioneiros de guerra ucranianos foram submetidos a tortura e desaparecimentos forçados, em violação do direito internacional humanitário. Segundo a comissão, a Rússia utilizou tortura sistematicamente para extrair informações e intimidar detidos, sendo os métodos mais brutais aplicados durante interrogatórios. Também há registros de violência sexual empregada como forma de tortura contra prisioneiros homens.
Outro ponto levantado no relatório é o aumento no número de soldados ucranianos mortos ou feridos após serem capturados ou ao se renderem. Testemunhos de desertores das Forças Armadas russas sugerem a existência de uma política de "matar em vez de fazer prisioneiros", o que configura crime de guerra.
Acusações contra a Ucrânia
O relatório também responsabiliza ambos os lados do conflito por crimes de guerra. A comissão identificou casos em que soldados feridos foram mortos por drones. Além disso, acusa autoridades ucranianas de violar direitos humanos ao perseguirem indivíduos suspeitos de colaborar com Moscou.
Criada em março de 2022 pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU, a comissão tem investigado violações cometidas desde o início da invasão russa à Ucrânia. O relatório enfatiza que, após três anos de guerra, as marcas deixadas pelo conflito são profundas, e exige que os responsáveis sejam levados à justiça.
Diferentemente da Ucrânia, que coopera com a comissão, a Rússia se recusa a colaborar. Em 2023, a deportação forçada de menores ucranianos levou o Tribunal Penal Internacional (TPI) a emitir um mandado de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin. O tribunal também acusa o ex-ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
O relatório surge em um momento em que a Ucrânia enfrenta pressão dos Estados Unidos para negociar um cessar-fogo. Nesta semana, Kiev aceitou uma proposta de trégua de 30 dias, mas Moscou evitou se comprometer, indicando que busca mais concessões antes de interromper os combates.