Um estudo inédito conduzido pelo Laboratório de Química Atmosférica (LQA) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) revelou que os cigarros eletrônicos descartáveis comercializados ilegalmente no Brasil contêm metais tóxicos e substâncias prejudiciais à saúde, mesmo antes de serem utilizados. A pesquisa, realizada pelo doutorando Carlos Leonny Fragoso e sua orientadora, a professora Adriana Gioda, identificou níveis elevados de cobre, estanho, níquel e zinco no líquido inalado pelos usuários.
Os resultados demonstram que esses metais, oriundos do circuito elétrico dos dispositivos, contaminam o líquido do vape antes mesmo do primeiro uso. Segundo os pesquisadores, as concentrações encontradas estão "muito acima do esperado para qualquer substância inalada". Além disso, a análise revelou a presença de diversos compostos adicionados para realçar o sabor, incluindo substâncias normalmente usadas na fabricação de velas e aromatizantes.
O estudo também avaliou 14 amostras de líquidos usados em vapes recarregáveis, que não apresentaram níveis detectáveis de metais antes do uso. No entanto, os pesquisadores alertam que, ao entrar em contato com os circuitos elétricos e os sistemas de aquecimento, essas substâncias podem ser contaminadas da mesma forma.
Os testes laboratoriais realizados indicaram que todas as amostras analisadas causaram estresse oxidativo em células cardíacas de camundongos, um processo associado a inflamações e doenças crônicas, incluindo problemas respiratórios e cardiovasculares.
A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, ressaltou que os cigarros eletrônicos podem ser ainda mais prejudiciais do que os convencionais, pois geram dependência mais rapidamente. Estudos indicam que a concentração de nicotina nos vapes pode ser até cem vezes maior que a de um cigarro tradicional, tornando o vício mais intenso e difícil de ser tratado.
Apesar da proibição da venda de cigarros eletrônicos no Brasil desde 2009, os dispositivos continuam a circular amplamente no país. Apenas entre outubro e dezembro do ano passado, a Receita Federal apreendeu mais de 1,5 milhão de unidades no Porto de Santos. O uso desses dispositivos tem se popularizado principalmente entre os jovens, o que preocupa especialistas da área de saúde.
Enquanto o debate sobre a regulamentação dos cigarros eletrônicos avança no Senado por meio do Projeto de Lei 5008/2023, a indústria do fumo argumenta que a falta de regulamentação contribui para o uso de produtos de qualidade duvidosa. No entanto, especialistas alertam que os impactos na saúde pública superariam qualquer eventual arrecadação tributária decorrente da regularização desses produtos.