A inflação dos alimentos tem levado consumidores a mudarem hábitos de consumo em supermercados e feiras, adaptando-se aos preços elevados para manter a alimentação das famílias. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços subiram 7,69% no último ano, impactando diretamente o orçamento doméstico, especialmente entre as classes mais baixas.
Substituições e cortes no carrinho de compras
No Parque Santo Antônio, periferia de São Paulo, Ionara de Jesus, de 43 anos, é um exemplo de como os brasileiros estão "driblando" os preços. Com um salário mínimo vindo de um programa municipal e apoio de doações, ela substituiu itens básicos: o feijão tradicional foi trocado pelo fradinho, e o café deu lugar ao chá de capim-santo. Para economizar, a família reveza o consumo da bebida, tornando um pacote mais duradouro.
A carne vermelha desapareceu da mesa há seis meses, e alternativas como carcaça de frango e suã de porco passaram a ser a principal fonte de proteína. "A gente inventa com o que tem: sopa, canja, refogado", conta Ionara, que também dilui as preparações para aumentar o rendimento.
Mudança na alimentação e busca por mercados atacadistas
No bairro da Vila Nova Cachoeirinha, o motorista de aplicativo Luiz Benedito, 40 anos, também precisou mudar os hábitos alimentares da família. Apesar de ter dobrado sua renda desde a pandemia, o preço da carne vermelha o fez optar pelo frango, considerado mais acessível. Ele também passou a comprar produtos de limpeza e higiene em atacadistas para reduzir os custos a longo prazo.
Os produtos ultraprocessados, que antes eram comuns na casa, agora são consumidos apenas em dias alternados. "Tem dia que tem, tem dia que não tem. Paciência", diz ele sobre itens como iogurtes e salgadinhos para os filhos.
Classe média também sente impacto e busca alternativas
Mesmo em bairros nobres, como a Vila Madalena, consumidores ajustaram suas escolhas. A gestora de marketing Marcella Dragone, 40 anos, continua comprando alimentos orgânicos, mas reduziu a frequência de produtos mais caros. O suco de uva importado foi substituído por uma versão de produção local, e o filé mignon bovino deu lugar ao de porco, que custa um terço do preço.
Além disso, Marcella também adota compras em grandes quantidades para produtos de limpeza, aproveitando a economia de embalagens maiores. Ela, porém, mantém a praticidade como prioridade, optando por compras online e serviços de assinatura para frutas e verduras.
Inflação afeta hábitos alimentares e pesa mais para os mais pobres
O economista André Braz, do FGV-Ibre, explica que a inflação impacta de forma desigual as classes sociais. Enquanto famílias de renda mais alta podem diversificar gastos, os mais pobres sentem diretamente a alta dos alimentos, pois comprometem a maior parte do orçamento com comida.
Com estratégias que vão da substituição de itens à busca por mercados atacadistas e alimentos mais baratos, os brasileiros seguem adaptando-se à realidade econômica, tentando manter a alimentação sem comprometer ainda mais o orçamento doméstico.